Estive na Islândia há vinte anos, por razões profissionais, e detestei. Tudo era terrivelmente sombrio e inóspito, desde o clima, ao invasivo cheiro a enxofre proveniente dos geisers, à ausência de árvores e de qualquer vestígio histórico com forma de monumento. Para não falar da alimentação (difícil evitar salmão do pequeno almoço à ceia) e dos preços disparatadamente altos de qualquer ninharia, obviamente importada. População reduzida, de gigantes - elas esquálidas, eles incarnações actualizadas de vikings - que pouco ou nada produzia e, ainda menos, se reproduzia.
Parecia um país inviável mas o nível de vida ali estava para provar o contrário. Os islandeses faziam gala em falar do seu elevado poder de compra e gabavam-se de ter mais automóveis do que habitantes (e que automóveis!). Explicavam-nos que tudo se devia ao bacalhau e, também e sobretudo, às licenças de pesca vendidas a gentes do mundo inteiro. E nós acreditávamos. Sabe-se hoje que a realidade era, ou passou a ser, bem diferente e as razões estão mais do que explicadas.
Desemprego galopante, 17% de inflação, SUV Range Rover a apodrecer em contentores, 30% dos islandeses, sobretudo jovens, a quererem emigrar (e, ao todo, eles são apenas 320.000). O país torna a parecer inviável. Será que voltará a ser uma pura plataforma para novos nómadas em busca de salmão e aparentados, como o foi durante séculos? Para já, e pela primeira vez, quer entrar rapidamente para a União Europeia - pudera!
Penso sempre neste caso como um dos absurdos mais paradigmáticos deste ano que agora acaba e ninguém faz previsões minimamente optimistas para o que se segue.
Nunca fui jogadora, mas houve uma fase da vida em que, por essa Europa fora, vi muitos amigos ganhar, e sobretudo perder, em todo o tipo de pokers e de roletas. Por acaso, até foi com eles que estive na Islândia onde não existia nenhum casino - julgávamos nós.
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