A propósito da anunciada canonização do «nosso» condestável, a Associação Ateísta Portuguesa enviou ontem um Comunicado à imprensa. Merece ser lido na íntegra, mas aqui ficam alguns excertos:
«...Deus podia mais facilmente ter evitado os salpicos de óleo que atingiram o olho esquerdo da D. Guilhermina de Jesus, enquanto fritava o peixe, e a consequente “úlcera da córnea, uma coisa gravíssima” – segundo o cardeal Saraiva Martins –, do que ter de a curar para o beato virar santo. Um vulto histórico, da dimensão de Nuno Álvares, não se engrandece com a cura de uma queimadela ocular quando há tantos amputados a quem o crescimento de uma perna facilitaria a vida e era mais relevante para o seu prestígio.»
E mais a sério:
«A Associação Ateísta Portuguesa não será cúmplice, com o seu silêncio, da manobra obscurantista em curso e, por isso, a denuncia. Apela ao espírito crítico dos portugueses para não crerem em afirmações sem provas e não confundirem a superstição com a realidade.»
De facto, muitos brincámos com o anúncio desta canonização, o nosso PR congratulou-se (em nome dele e da sua esposa, assim o esperamos), os espanhóis já esqueceram Aljubarrota e a RTP vai certamente enviar Fátima Campos Ferreira a Roma para comentar as cerimónias. Mas este culto do obscurantismo e de um patriotismo serôdio é muito mais prejudicial do que parece – e merece ser sistematicamente condenado.
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6 comments:
Esta associação Ateísta Portuguesa deve ser bem protegida, pois estamos perante uma das provas da existência de Deus, e já agora, da Santidade do Santo Condestável.
Só mesmo a existência de Deus, consegue justificar a existência destes palermas de Odivelas que ficam a tremer de ódio assim que veem um religioso a 1 km de distância.
Que exagero, Luís!
Eu não uso normalmente a linguagem da AAP, nem concordo com muito do que diz e faz. Mas tem o seu lugar e é útil - digo eu...
gostei da piada das pernas... já quanto ao "vulto histórico"... vulto cheira-me a fantasmas, o que não é linguagem própria de uma associação de ateus
Neste caso, o comunicado da tal Associação tem pouca importância. O comunicado não conta, de facto, e tenho muitas dúvidas de que uma Associação de Ateístas sirva ainda para alguma coisa. Tanto mais que parece virada, não para a questão da existência de um dos nossos deuses, mas sim para as parvoíces da Igreja Católica e do seu Vaticano.
Aqueles Senhores ateístas podem vir para praça pública fazer um certo alarido. Com este comunicado até o fazem em dois registos pouco compatíveis, o da ironia e o das afirmações solenes. Fazem-no, entre outras coisas, para “prevenir os simples”, “acautelar os frágeis” , “não ser cúmplice”, etc. Não terá esta Associação muitos préstimos, mas peneiras não lhe faltarão.
O que tem importância é a canonização de Nuno Álvares Pereira, na base em que será ou já foi feita. Canonizarem-no ou não, tanto faz. Podem esculpi-lo em pedra quanto queiram, podem canonizá-lo, que isso nada acrescenta ao que se lhe conhece. Que nem o abona muito. Tem, de resto, gente ainda pior por companhia.
Acrescentando o ridículo que é enorme, esta Igreja, e aqui, eu, não sendo católico de todo, também me sinto humilhado, ofende todos os católicos, pois parece admitir que pastoreia, não um rebanho humano, mas uma enorme manada de bestas. E aborrece-me que aquelas sotainas não reconheçam a dignidade dos homens.
Estarão em concorrência com a IURD?
Apesar do meu comentário ter seguido outra direcção, regresso agora ao blogue da Joana Lopes, para concordar inteiramente com as suas conclusões. Parece que, desta vez, fui eu que mais me indignei com uma outra história do Vaticano.
Rídicula esta Associação Ateísta, só o nome é medonho...
A pobreza de (alguns) espíritos contemporaneos é confragedora...se calhar é melhor acreditar no Shopping, não?
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