11.3.09

Quando se castiga a vida













Os factos são conhecidos. Um brasileiro engravidou a enteada de nove anos. A menina esperava gémeos, as autoridades eclesiásticas brasileiras tentaram, em vão, impedir o aborto e ameaçaram com excomunhões, Lula da Silva protestou, o aborto foi realizado, as pessoas que nele colaboraram foram excomungadas – o padrasto não o foi, evidentemente.

O Vaticano, na pessoa de um cardeal presidente não sei de quê apoiou o arcebispo de Recife (lembrar-me eu que este cargo já foi exercido por D. Hélder da Câmara!!!...) e veio dizer que os gémeos, «pessoas inocentes», tinham direito a viver.

Nada de novo, nada de inesperado, porque se há algo a que estes senhores que (também) são Igreja nos habituaram foi ao facto de serem sempre absolutamente expectáveis. Não defendem a vida, mas uma ideia de vida, imaginária, «romana», uma espécie de fantasma ameaçador e por vezes medonho, como neste caso concreto. Preferem dar prioridade à vida ainda ausente, problemática, neste caso de dois gémeos hipoteticamente muito pouco viáveis, em detrimento de uma criança de nove anos – real e que viria certamente a ser vítima da sua própria gravidez.

Tudo isto por obediência cega a uma lógica implacável, que não cede um milímetro para não correr o risco de ver implodir todo um sistema. Por uma sabedoria milenar inabalável que resiste até aos limites do absurdo. E que, entre a morte e a vida, escolhe a morte – porque é disso que verdadeiramente se trata.

(Leitura)

4 comments:

CCF disse...

As igrejas deviam ficar todas vazias, em sinal de protesto. E é aos católicos conscientes e implicados(progressistas, era assim que se chamavam?) que cabe esse protesto, uma gente que sonhava mudar as coisas por dentro, mas que está cada vez mais desaparecida.
~CC~

Paulo disse...

Neste como em outros casos semelhantes, nunca será suficiente a indignação e a revolta. D. Helder da Câmara saberia denunciar esta hipocrisia.
Felicito-a pelo post.
Convido-a a ler em http://marcadagua-pt.blogspot.com/

Joana Lopes disse...

Também se lembrou portanto de D. Hélder da Câmara...

Anónimo disse...

É mais por uma 'insabedoria' milenar.