Algumas horas depois de ter chegado a notícia da morte de João Bénard da Costa, vejo que quase todas as referências à mesma se limitam à acção na área do cinema. Foi provavelmente a sua maior paixão, entre as muitas que sempre cultivou, obstinada e exaustivamente.
Para mim é, sobretudo, menos um que resta dos que começaram a opor-se à ditadura porque eram católicos e por isso mesmo deixaram de o ser. Mais um que parte de uma família - a dele - absolutamente extraordinária, a quem devo «acolhimento» e caminho em comum numa das fases mais importantes da minha vida, mesmo se esta se encarregou depois de naturais afastamentos. Ficará para sempre ligado a intermináveis reuniões de «O Tempo e o Modo» e a discussões sobre problemas teológicos, que hoje parecem inverosímeis, em torno da revista «Concilium». Mas também a inesquecíveis férias na Arrábida dos anos 60 e, bem mais tarde, às páginas cúmplices de «Nós, os vencidos do catolicismo».
Vencidos nos sentiremos nós todos, certamente, quando nos reencontrarmos daqui a umas horas.
Para mim é, sobretudo, menos um que resta dos que começaram a opor-se à ditadura porque eram católicos e por isso mesmo deixaram de o ser. Mais um que parte de uma família - a dele - absolutamente extraordinária, a quem devo «acolhimento» e caminho em comum numa das fases mais importantes da minha vida, mesmo se esta se encarregou depois de naturais afastamentos. Ficará para sempre ligado a intermináveis reuniões de «O Tempo e o Modo» e a discussões sobre problemas teológicos, que hoje parecem inverosímeis, em torno da revista «Concilium». Mas também a inesquecíveis férias na Arrábida dos anos 60 e, bem mais tarde, às páginas cúmplices de «Nós, os vencidos do catolicismo».
Vencidos nos sentiremos nós todos, certamente, quando nos reencontrarmos daqui a umas horas.
12 comments:
Bem me parecia que havia mais qualquer coisa. Também tinha a ideia de haver ainda alguma coisa antes do 25 de Abril. Desvantagens de só ter um ano aquando do mesmo (facilmente compensadas com a vantagem de não ter vivido em ditadura).
Obrigado, pela nota.
A morte d JBC era esperada há muito, até a Wikipedia traz umas coisas, mas os nossos jornalistas devem estar cansados...
Há que falar dele como professor muito bom que foi e deixou nos seus alunos marcas que em muitos casos perduraram pela vida fora.
Eu fui um deles e já dei conta disso logo pela manhã, mal soube da notícia.
T. Mike, Muito obrigada. Já pus o link para o seu blogue.
Apoiado, Joana, por teres lembrado que o Bernard da Costa não foi só o homem da Cinemateca. Eu começava a sentir-me incomodado por o enfiarem apenas naquelas portas adentro.
Cavaco Silva fala dos seus discursos do 10 de Junho e das suas crónicas e pouco mais consegue dizer. Pudera, não foi ele que escreveu os Lusíadas. Os jornalistas, cansados ou não, mas seguramente muito ignorantes e muito ligeirinhos em quanto fazem, disseram umas coisas poucas. Sem significado.
Depois, impressiona-me como vão encurtando o passado das pessoas; estabelecem um início no 25 de Abril e só a partir do qual tal passado começam.
Bernard da Costa bem merece o trabalho de o recordar. Bem extensamente, à medida do homem.
Espero que o façam!
Naturalmente que há mais pessoas que não se esqueceram que Bénard da Costa não era só cinema.
A prova de que ele era respeitado por pessoas de quadrantes políticosn diversos está, por exemplo, na nota que Vítor Dias publicou no seu blogue onde refere que é «de registar também nesta ocasião que foi uma figura destacada do movimento dos católicos progressistas no combate à ditadura fascista e que, nesse quadro, com Jorge Sampaio, Sottomayor Cardia e outros democratas participou em Agosto de 1968, em Paris, numa importante reunião clandestina com Álvaro Cunhal e outros dirigentes do PCP. Aqui fica a minha homenagem e a solidariedade para com os seus familiares e amigos mais próximos.»
Quando foi da Revolução Francesa eu nem um ano tinha. Aliás ainda nem havia projecto para o nascimento dos meus avós. Mas sei que ela conteceu e até lhe conheço o conteúdo (julgo...).
Jorge Conceição? Importa-se de explicar?
Joana: reacção emotiva à ironia de Paulo Topa, cujo alcance não terei alcançado.
Não pretendia ser irónico. Embora, eventualmente possa ser assim entendido.
Queria dizer que, como só tinha um ano quando foi o 25 de Abril, não me apercebi (é lógico que poderia ter estudado depois, mas o movimento católico contra a ditadura parece-me pouco estudado e divulgado) da importância que João Bénard da Costa teve. Se tivesse vivido mais tempo durante a ditadura ter-me-ia, certamente, apercebido melhor. Assim, não conhecer tão bem o que sucedeu antes do 25 de Abril é uma desvantagem de não ter vivido nessa época. Contudo, é facilmente ultrapassada com a imensa vantagem de só ter vivido (em termos práticos) em democracia.
Aliás, parece-me que a imensa maioria dos "trintões" percebe muito pouco o que alguns católicos fizeram contra o regime salazarista. Em parte, isto é justificável com o facto da imensa maioria da "igreja" ter apoiado a ditadura.
Eventualmente, ter-me-ei expressado de uma forma algo dúbia.
Eu tinha percebido que não era ironia, Paulo. Foi um mal-entendido para o Jorge. Tudo explicado agora.
Paulo e Joana: as minhas desculpas! Tenho de moderar os meus impulsos e de pensar ainda mais vezes antes de falar.
É natural que hoje pouco se saiba sobre esse grupo dos católicos progressistas (não obstante, por exemplo, a Joana ter dado um valiosíssimo contributo sobre a acção desse grupo não estatutário, particularmente na zona de Lisboa, com o seu livro que levou o mesmo nome deste blogue). É natural porque pouco a pouco a acção política desses católicos se "temporizou" e se fundiu com a de quem não se tinha definido como tal, isto é, deixou de ser importante a assunção de tal "qualidade". A acção da luta política contra o fascismo, sobretudo a partir de 69, passou a ser feita sem qualquer capa ou referência a um estatuto eclesial, suponho que apesar da Capela do Rato (mas não me posso pronunciar sobre este caso, pois não me encontrava então cá, mas em Moçambique...).
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