17.6.09

Abstenção nas europeias? Mas houve quem votasse duas vezes…


















Soube-se agora que pelo menos um cidadão votou duas vezes no passado dia 7, uma com o Cartão de Cidadão e outra com o BI, em locais diferentes porque estava recenseado em ambos. A CNE veio hoje dizer que ocorreram mais casos, não se sabe exactamente quantos, mas em número necessariamente residual, e explica que o facto se deve a falhas em recenseamentos anteriores. Acrescenta: «A credibilidade das eleições só seria posta em causa se, generalizadamente, os cidadãos eleitores tivessem votado duas vezes. Então isso seria uma grande tristeza.» Tristeza? Ouvi em trânsito, na TSF, e nem queria acreditar. Mas está aqui.

Por razões profissionais, estive tecnicamente envolvida nos processos eleitorais das décadas de 70 e de 80 e nunca me passaria pela cabeça que, em 2009, pudessem ainda ocorrer casos como este - ou seja, que a verificação da consistência dos dados do recenseamento, a nível nacional, não fosse ainda absolutamente rigorosa e exaustiva.

P.S. - Outra dúvida? É possível ter-se simultaneamente Cartão de Cidadão e BI válido?

P.S. 2 - Não resisto a transcrever uma frase deixada pelo João Gaspar na Caixa de Comentários: «enfim, o cartão do cidadão é a pior invenção de sempre desde o rebobinador de cassetes».

7 comments:

João Gaspar disse...

não sei se é possível ter o cartão do cidadão e o bi simultaneamente válidos, mas julgo que o cartão do cidadão vai ter (se assim o quisermos, acho eu) o número de eleitor incorporado, pelo que vai deixar de requerer o velhinho e encarquilhado cartão de eleitor.

como tirei o cartão do cidadão recentemente, ainda votei à antiga, apresentando cartão de eleitor, porque me disseram que só 2 meses depois do cartão de eleitor emitido é que o "novo" (?) número de eleitor é válido, o que percebi como sendo para fechar os cadernos eleitorais. deduzo que se tivesse apresentado o bi, apesar de caducado, me tivessem deixado votar. por acaso estive quase para lá voltar só com o cartão do cidadão para ver se me deixavam votar outra vez. pelos visto dava.


o que mais me estranha é como é que um nome (e respectivo número de bi, que não muda, raios!) pode constar duas vezes nos cadernos eleitorais.

mas pelo que sei o recenseamento passou (vai passar) a ser automático para a morada constante do cartão do cidadão. se não coincidir com o recenseamento actual ainda deve ser mais fácil aparecer em dois cadernos eleitorais diferentes.


enfim, o cartão do cidadão é a pior invenção de sempre desde o rebobinador de cassetes.

Joana Lopes disse...

Isto foi tudo uma enorme precipitação. E a tua última frase é magnífica - até a passei para o post!

F. Penim Redondo disse...

Também ouvi no carro, enquanto conduzia, essas espantosas declarações de alguém pretensamente responsável.

Já não bastava a catadupa de buscas e mandatos, contra tudo e contra todos escarrapachada nos jornais mas de consequências nulas ?

Estamos na véspera da implosão da democracia ?

Joana Lopes disse...

É uma total incompetência e irresponsabilidade generalizada! Até com um Magalhães se controlava isto tecnicamente, não?
Eu vivi estas coisas no Min. da Justiça e, há mais de 30 anos, já se acharia isto inconcebível!

joão josé cardoso disse...

Votar duas vezes pode ter sido residual, mas a dupla inscrição de eleitores já não sei se foi.
E a existência de eleitores fantasmas, põe em causa um dos resultados eleitorais, que têm servido de desculpa aos derrotados: a elevada abstenção.
Isto de o número de votantes aumentar, tal como o número de recenseados, depois de os cadernos eleitorais terem sido limpos do fantasma mais clássico, o falecido, já me levantava algumas dúvidas. Agora levanta outras.

Helena Araújo disse...

Se eu quisesse, podia ter votado duas vezes nesse dia. Como europeia residente na Alemanha, votei no sistema alemão. Também podia ter votado no português, onde estou recenseada.
Quando me recenseei no sistema alemão, assinei uma declaração onde me comprometia a votar apenas uma vez.
Disseram-me que não tencionavam enviar essa informação para o meu Consulado.
Em suma: se eu quisesse ser desonesta, podia ser.
Não fui desonesta, apenas simultaneamente participante (na Alemanha) e abstencionista (em Portugal). Hehehe, sou o Dr.Jekyll e o Mr.Hide.
Para efeitos de eleições europeias, ainda há algumas questões de procedimentos que têm de ser melhoradas.

Joana Lopes disse...

Essa sua situação, Helena, é curiosa para efeitos estatísticos: a abstenção tem as costas muuuuito largas e, se calhar, é feita também de coisas dessas.
Mas o recenseamento duplo, em Portugal,é tecnicamente inadmissível!