Uma volta lenta pelos blogues levou-me a um post da MC, pelo qual fiquei a saber que acaba de ser lançada em Lisboa, em pleno Chiado, uma piedosa e transcendente campanha. Objectivo: pôr os portugueses a rezar «Um Milhão de Terços Diários por Portugal».
E isto apesar de vivermos num quase perfeito paraíso: «Aqui o sol é mais luminoso e o céu mais azul e, à noite, tem também mais estrelas! As flores são mais belas e os frutos têm outro sabor. Sim, as mesmas flores e os mesmos frutos que crescem e são colhidos em muitos outros países, mas que em Portugal têm cores mais bonitas e sabores mais intensos! Ah, e o mar! O nosso mar sem fim! A hospitalidade do povo, a riqueza das tradições, a verdade das devoções… a nossa língua: O bem-haja, as saudades, o Deus lhe pague… (…) Neste pedacinho do Céu, Deus parece ter a Sua mão sobre as nossas cabeças e Nossa Senhora anda connosco ao colo…».
É, de facto, «um pedacinho do Céu», mas os proponentes coram de vergonha por muitas razões, por exemplo «perante as estatísticas dos abortos praticados, ou (…) com a eutanásia ou quaisquer outras faltas de respeito pelo carácter inviolável da vida humana». E por isso o tal projecto «nasceu da gratidão para com Deus, da devoção a Maria Santíssima, do amor a Portugal, do orgulho por São Nuno – e também da consciência de que o inimigo não dorme!»
Não entro nos detalhes das regras do «concurso», mas sublinho que, quem participar, «na formulação da intenção pode apenas dizer: “pelas intenções de Nossa Senhora”. E Ela se encarregará de levar a Deus as nossa intenções particulares». Garantidamente.
Parece a brincar? Mas não é: o tal país real passa também por aqui, por muito que isso nos custe! Com o aval da Conferência Episcopal, evidentemente.
Um milhão de terços por dia é muito! Por isso, nesta tarde de (profunda) reflexão, dou por mim a desejar que muita desta gente responda ao apelo e passe já o dia de amanhã a cumprir a promessa (ou lá o que isto é) e se esqueça mesmo de ir votar. Se o santo Nuno puder ajudar…
P.S. - Perguntam-me se isto é um «apelo» à abstenção. De todo! Mas como não é difícil adivinhar o sentido de voto destas pessoas, preferia realmente que ficassem em casa...
9 comments:
isto é um apelo à abstenção? ;-)
Não, não, apenas votos de uma abstenção SELECTIVA!!!
Relembro palavras do Padre Mário de Oliveira .
Toda esta veneração idolátrica à Virgem é uma heresia inaceitavel para os cristãos dignos desse nome.
E porque em tempo de reflexão talvez não nos seja autorizado a reflectir questões eleitorais em público (terá sido por isso que ainda não foi editado o meu comentário ao post de Helena Pato, in "Caminhos da Memória"? É que, se ali havia alguma mensagem sibilina, ela era apenas no sentido oposto ao do convite à abstenção...), reflicto sobre a transcrição que o T.Mike fez do Pe. Mário.
É que eu acho que, se estas foram as palavras textuais que ele usou, então a frase "Toda esta veneração idolátrica à Virgem é uma heresia inaceitavel para os cristãos dignos desse nome" contém em si uma enorme contradição:
- Se é uma heresia, os cristãos dignos desse nome, deixaram de ser cristãos dignos desse nome. A partir daí, não sendo mais cristãos dignos desse nome, passam a poder fazer a tal adoração idolátrica, sem se tornarem heresia. Passam, portanto, a poder ser considerados cristãos dignos desse nome, altura em que voltam a entrar no âmbito da heresia inaceitável, pelo que deixam de poder ser considerados como cristãos dignos desse nome... E, para não enlouquecerem, mais vale, que se decidam a afirmarem-se em definitivo como não cristãos! O problema é que, assim, podem de novo alinhar na tal veneração idolátrica...
Jorge,
Quanto ao comentário nos Caminhos: está agora publicado, tinha ficado «pendurado» para aprovação nem sei bem porquê...
Tenho dificuldade em segui-lo nos raciocínios sobre as heresias...
Esso desejo de uma abstenção selectiva não é lá muito democrático. Mas compreendo-a perfeitamente.
Jorge Conceição,
Sabe ler português ?
E de sinais ortográficos como estamos ?
Se reparar bem não leu nem escreveu sobre o que eu escrevi.
Quanto â sua dissertação, para bom entendedor meia palavra basta...
"Espero que quem pensa de modo diferente do meu se esqueça de ir votar"
Que pensamento mais democrático.
“Todas estas graças... não são à prova de bala… O inimigo não dorme e, esperto como é...”
Apresenta-se, José Eduardo de Sousa, um inimigo que não dorme. Que não fará a experiência de serem ou não à prova de bala aquelas benditas graças. Felizmente para elas. E bom, bom... que deixa de ter dúvidas se é esperto ou não.
Há muito tempo que não lia um texto tão imbecil. Será possível? A Igreja Católica ainda pode aninhar gente desta? Se votassem e se a Senhora fosse candidata ao Parlamento Europeu, lá poderíamos ter, como eurodeputada, a Senhora de Fátima. Que se largue a imaginação, a Senhora de Fátima num Parlamento.
A contradição que Jorge Conceição aponta na frase do Padre Mário tem piada. Já o azedume e a rudeza de T.Mike não têm graça nenhuma. Possivelmente, em todos os monoteísmos, as formas idolátricas laterais possuirão como que efeitos autofágicos ou de autonegação. Mas arrumemos a questão dizendo que aqueles que são idolatras, não sendo “cristãos dignos desse nome”, são ainda cristãos, mas um tanto assim-assim.
E acabo. Vou começar com a primeira conta do meu rosário.
Enviar um comentário