5.7.09

Sem apelo nem agravo

















Ferreira Fernandes pergunta hoje, no DN, qual poderá ser a razão para a actual crise nos jornais, já que notícias é o que menos falta neste país. Respondo pelo quiosque onde me abasteço, já nem sei há quantos anos. Localização ideal, num bairro habitadíssimo de Lisboa, mais nenhum ponto de venda à vista. Ainda não há muito tempo, esperava-se em fila para se ser atendido. O dono está agora a arrumar as sobras para fechar definitivamente as portadas, na esperança de um trespasse que dê para pagar as dívidas aos fornecedores – talvez para comes e bebes de gente fina, quem sabe...

Aparentemente, a «crise» chegou há cerca de um ano e veio para ficar. Até lá, tudo ia muito bem. («Pois se até lhe comprei a carrinha, doutora».) Hoje já nem os semanários do fim-de-semana, que deram para aguentar o barco durante uns meses, chegam para compensar tudo o resto. E o que é o resto? «Vende-se cada vez menos tabaco, os mais velhos não compram revistas e os mais novos não lêem jornais.»

Em breve, será mais um quiosque de Lisboa entaipado, a não ser que passe a vender torresmos e ginjinhas. E eu deixarei de ver todos os dias a tal carrinha que foi minha durante dez anos e que vendi bem a tempo – quando os jovens ainda compravam A Bola e os mais velhos levavam para casa a Executive Digest e a Home Interiors.

8 comments:

ana vidigal disse...

Que bom seria se Portugal tivesse mais "gente fina" como Catarina Portas (tb dona de "A Casa Portuguesa") e João Regal (sócio de outro "antro de finesse"... Delidelux).

Que bom seria se os quiosques de jornais e revistas não sobrevivessem à custa da Bola, Executive Digest e Home Interior mas sim à custa de A Folha de S. Paulo, New York Times,Le nouvel Obs., The Guardian, Libération, O Globo etc

Que bom seria se Portugal tivesse mais "gente fina" para frequentar os "Quiosques do Refresco" e comprar revistas de qualidade.
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Quando vamos ao Marais em Paris, onde "gente fina" de passeia aos sábados e domingos de manhã ficamos encantados, não só com a oferta "fina", mas tb pela "gente fina" que o frequenta.
Engraçado verificar que quando alguém em Portugal quer nivelar por "cima", puxamos logo para "baixo".

Se calhar, se o dono do quiosque nos tempos em que fazia dinheiro com a Bola, tivesse começado a pensar como adaptar o negócio ao que os adolescentes hoje preferem comprar não estaria nessa situação.

O Delidelux, o Restaurante Bica do Sapato, o Cabeleireiro Factolab, a Pizaria Casanova e outras lojas circundantes foram durante anos armazéns do Porto de Lisboa abandonados.
Onde pessoas como Manuel Reis, Fernando Fernandes, Zé Miranda e Paola Porru resolveram INVESTIR parte dos LUCROS que fizeram enquanto donos do Frágil, do Pap'Açorda e Casanostra.

Mas "prontos" esses já sabemos que só gostam de coisas "finas"!Abençoados!

Anónimo disse...

Ou será que o homem se arruinou ao comprar uma carrinha a uma doutora nossa conhecida?

Joana Lopes disse...

Ana,
Não tenho NADA contra os quiosques da Catarina Portas, muito pelo contrário.
Acontece que a pessoa concreta de que falei é muito simples, ex-emigrante e que não tem de todo, «vocação» para uma tal reconversão do seu negócio. Mas, para tua informação, sempre teve a precoupação de ter revistas estrangeiras de qualidade, sempre me conseguiu algumas difícies de encontrar em Portugal - de que lhe encomendei, por vezes, vários exemplares para redistribuir. Deixou simplesmente de ter o número de clientes mínimo para se aguentar.
(P.S. - Ele vendia todas as revistas e jornais que citas - mas também A Bola e o resto, claro.)

Jorge Conceição disse...

A verdade é que não são só os quiosques a fechar. Na minha zona, onde não vive somente, nem sobretudo, "gente popularucha" e aonde até existem vários condomínios fechados com a tal gente "fina" ao gosto da Ana Vidigal, nesta zona de Lisboa e a uma distância inferior a 100 metros, fecharam nos últimos meses duas boas tabacarias, praticamente as únicas boas, com publicações de qualidade e cheias de puvlicações internacionais. A única que agora ficou(ficando a mais próxima a cerca de 800 metros!)é uma tabacaria "mixuruca" que além dos jornais vende quinquilharia. O que é que a tal gente "fina" fez para impedir que elas tivessem fechado por falta de negócio?

Não acho que seja apenas resultado da crise. O nosso público, mesmo o "fino", não vai muito em leituras e muito menos em línguas estrangeiras. Que eu saiba, os clubes de vídeo da vizinhamça ainda não sentiram o efeito da crise...

Joana Lopes disse...

Não, caro Anónimo, era uma velhíssima carrinha Rover, que foi vendida MUITO barata...

Luis Eme disse...

é isso Joana.

há quem não perceba (acho que finge, porque a crise desta vez chegou a todos, até os milionários estão mais pobrezinhos...) que as pessoas têm menos dinheiro e têm de fazer opções...

por outro lado, o jornalismo nunca foi tão pouco independente e livre. o "público", que continua a ser o jornal que mais leio (embora muito menos...) é uma vergonha graças ao seu director, que acha que vai "derrotar" o Sócrates. e as pessoas não são tão parvas como alguns políticos e jornalistas pensam...

e nas bancas, cada vez se vende menos (os gratuitos também devem ter tido alguma influência...).

ana vidigal disse...

"aonde até existem vários condomínios fechados com a tal gente "fina" ao gosto da Ana Vidigal"

ahahah puro engano: "gente fina" não mora em condomínios fechados.

Mora na baixa lisboeta, em alfama, no castelo,campo de ourique,p. real, bairro alto, estrela.

Anónimo disse...

A culpa não é só da crise. Os jornais são os grandesculpados. Eu, que os comprava diaria e semanalmente, hoje em dia quase não os compro. Ou inventam ou mentem. Deixei de ter confiança neles. Não merecem o que custam

Maria