Ferreira Fernandes pergunta hoje, no DN, qual poderá ser a razão para a actual crise nos jornais, já que notícias é o que menos falta neste país. Respondo pelo quiosque onde me abasteço, já nem sei há quantos anos. Localização ideal, num bairro habitadíssimo de Lisboa, mais nenhum ponto de venda à vista. Ainda não há muito tempo, esperava-se em fila para se ser atendido. O dono está agora a arrumar as sobras para fechar definitivamente as portadas, na esperança de um trespasse que dê para pagar as dívidas aos fornecedores – talvez para comes e bebes de gente fina, quem sabe...
Aparentemente, a «crise» chegou há cerca de um ano e veio para ficar. Até lá, tudo ia muito bem. («Pois se até lhe comprei a carrinha, doutora».) Hoje já nem os semanários do fim-de-semana, que deram para aguentar o barco durante uns meses, chegam para compensar tudo o resto. E o que é o resto? «Vende-se cada vez menos tabaco, os mais velhos não compram revistas e os mais novos não lêem jornais.»
Em breve, será mais um quiosque de Lisboa entaipado, a não ser que passe a vender torresmos e ginjinhas. E eu deixarei de ver todos os dias a tal carrinha que foi minha durante dez anos e que vendi bem a tempo – quando os jovens ainda compravam A Bola e os mais velhos levavam para casa a Executive Digest e a Home Interiors.
8 comments:
Que bom seria se Portugal tivesse mais "gente fina" como Catarina Portas (tb dona de "A Casa Portuguesa") e João Regal (sócio de outro "antro de finesse"... Delidelux).
Que bom seria se os quiosques de jornais e revistas não sobrevivessem à custa da Bola, Executive Digest e Home Interior mas sim à custa de A Folha de S. Paulo, New York Times,Le nouvel Obs., The Guardian, Libération, O Globo etc
Que bom seria se Portugal tivesse mais "gente fina" para frequentar os "Quiosques do Refresco" e comprar revistas de qualidade.
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Quando vamos ao Marais em Paris, onde "gente fina" de passeia aos sábados e domingos de manhã ficamos encantados, não só com a oferta "fina", mas tb pela "gente fina" que o frequenta.
Engraçado verificar que quando alguém em Portugal quer nivelar por "cima", puxamos logo para "baixo".
Se calhar, se o dono do quiosque nos tempos em que fazia dinheiro com a Bola, tivesse começado a pensar como adaptar o negócio ao que os adolescentes hoje preferem comprar não estaria nessa situação.
O Delidelux, o Restaurante Bica do Sapato, o Cabeleireiro Factolab, a Pizaria Casanova e outras lojas circundantes foram durante anos armazéns do Porto de Lisboa abandonados.
Onde pessoas como Manuel Reis, Fernando Fernandes, Zé Miranda e Paola Porru resolveram INVESTIR parte dos LUCROS que fizeram enquanto donos do Frágil, do Pap'Açorda e Casanostra.
Mas "prontos" esses já sabemos que só gostam de coisas "finas"!Abençoados!
Ou será que o homem se arruinou ao comprar uma carrinha a uma doutora nossa conhecida?
Ana,
Não tenho NADA contra os quiosques da Catarina Portas, muito pelo contrário.
Acontece que a pessoa concreta de que falei é muito simples, ex-emigrante e que não tem de todo, «vocação» para uma tal reconversão do seu negócio. Mas, para tua informação, sempre teve a precoupação de ter revistas estrangeiras de qualidade, sempre me conseguiu algumas difícies de encontrar em Portugal - de que lhe encomendei, por vezes, vários exemplares para redistribuir. Deixou simplesmente de ter o número de clientes mínimo para se aguentar.
(P.S. - Ele vendia todas as revistas e jornais que citas - mas também A Bola e o resto, claro.)
A verdade é que não são só os quiosques a fechar. Na minha zona, onde não vive somente, nem sobretudo, "gente popularucha" e aonde até existem vários condomínios fechados com a tal gente "fina" ao gosto da Ana Vidigal, nesta zona de Lisboa e a uma distância inferior a 100 metros, fecharam nos últimos meses duas boas tabacarias, praticamente as únicas boas, com publicações de qualidade e cheias de puvlicações internacionais. A única que agora ficou(ficando a mais próxima a cerca de 800 metros!)é uma tabacaria "mixuruca" que além dos jornais vende quinquilharia. O que é que a tal gente "fina" fez para impedir que elas tivessem fechado por falta de negócio?
Não acho que seja apenas resultado da crise. O nosso público, mesmo o "fino", não vai muito em leituras e muito menos em línguas estrangeiras. Que eu saiba, os clubes de vídeo da vizinhamça ainda não sentiram o efeito da crise...
Não, caro Anónimo, era uma velhíssima carrinha Rover, que foi vendida MUITO barata...
é isso Joana.
há quem não perceba (acho que finge, porque a crise desta vez chegou a todos, até os milionários estão mais pobrezinhos...) que as pessoas têm menos dinheiro e têm de fazer opções...
por outro lado, o jornalismo nunca foi tão pouco independente e livre. o "público", que continua a ser o jornal que mais leio (embora muito menos...) é uma vergonha graças ao seu director, que acha que vai "derrotar" o Sócrates. e as pessoas não são tão parvas como alguns políticos e jornalistas pensam...
e nas bancas, cada vez se vende menos (os gratuitos também devem ter tido alguma influência...).
"aonde até existem vários condomínios fechados com a tal gente "fina" ao gosto da Ana Vidigal"
ahahah puro engano: "gente fina" não mora em condomínios fechados.
Mora na baixa lisboeta, em alfama, no castelo,campo de ourique,p. real, bairro alto, estrela.
A culpa não é só da crise. Os jornais são os grandesculpados. Eu, que os comprava diaria e semanalmente, hoje em dia quase não os compro. Ou inventam ou mentem. Deixei de ter confiança neles. Não merecem o que custam
Maria
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