14.9.09

Cogitações (10)

«Porque toda esta paixão agora parece gasta, e as paixões contrárias que despertou correspondentemente redundantes, os analistas de hoje tendem a menosprezar as “guerras culturais” ideológicas do século xx, e os desafios doutrinários e contradoutrinários, como um capítulo encerrado. O comunismo defrontou o capitalismo (ou o liberalismo): perdeu, tanto no campo das ideias como no terreno, e portanto ficou para trás. Mas ao desprezar as promessas falhadas e os falsos profetas do passado, também nos apressamos excessivamente a subestimar – ou simplesmente a esquecer – a sua sedução. No fim de contas, porque é que essas promessas e esses profetas atraíram tantos cérebros talentosos (para não falar de milhões de eleitores e activistas)? Devido aos horrores e receios da época? Talvez. Mas será que as circunstâncias do século xx foram realmente tão invulgares, tão únicas e irrepetíveis, que podemos ter a certeza de que não mais voltará aquilo que impeliu homens e mulheres para as grandes narrativas da revolução e na renovação? Será que os planaltos ensolarados da “paz, democracia e mercado livre” chegaram mesmo para ficar?»

Tony Judt, O século xx esquecido, p. 27.

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