8.1.10

Antes que o dia acabe




Festeje-se o que há para festejar, mas poupe-se algumas garrafas de champanhe, que terão de esperar no frigorífico até que os sensatos da história decidam que as crianças podem entrar na sala.

Escandalizei alguns quando escrevi há alguns dias, num comentário deste blogue, que a adopção por casais homossexuais era para mim mais importante do que a possibilidade de casamento - e mantenho. Primeiro, porque acho uma barbaridade que duas pessoas que se amam não possam criar legalmente filhos de outros que os abandonaram, pelo simples facto de terem o mesmo sexo. Segundo, porque, se é verdade que impedir-se essas mesmas pessoas de se casarem era inadmissível, e tinha consequências práticas que já foram exaustivamente descritas, não deixa de ser irónico que estejamos a falar de um direito que já foi socialmente muito mais importante do que é hoje, e do qual as novas gerações de heterossexuais estão cada vez mais a prescindir e a menosprezar.

Assim sendo, saúde-se o fim de uma descriminação absurda e injusta como todas as outras, mas lamente-se que a adopção tenha, por agora, morrido na praia.

13 comments:

João Gaspar disse...

João Gaspar gosta disto.

Joana Lopes disse...

Já pões comentários tipo Facebook :-)

João Gaspar disse...

eheh. sim, mas também porque gosto sinceramente disto tudo.

dos festejos e da reserva de algum champanhe.

por agora o casamento ainda está na fase de medicamento: "manter fora do alcance das crianças".

mas é melhor um passo de cada vez do que ficar parado. e há aqui uma vitória impossível de ignorar, especialmente com a direita intelectualmente desonesta que vocifera enraivecida.

Miguel Cardina disse...

Miguel Cardina também gosta disto :-)

io disse...

Io gosta disto até porque lhe dá azo para desentalar o que lhe vai na alma desde ontem: a decisão de deixar a adopção de fora é supinamente rasteira. Há por este país fora - e pelos outros - algumas (são sempre poucas) crianças adoptadas por homens e mulheres solteiros que não declararam, porque felizmente não tinham de declarar, a sua orientação sexual e que são homossexuais. Em consequência, há já hoje em dia crianças adoptadas a ser educadas e amadas por homossexuais, algumas das quais vivendo em uniões de facto homossexual. Fechar os olhos também a esta realidade é mais uma verdadeira e hedionda hipocrisia que me deixa doente. Mormente quando quem legisla sabe - ou tem a obrigação de saber - que ao contrário do casamento a adopção segue regras de análise casuística apertadas e não adopta quem quer, mas sim quem reúne as condições. Bref, uma aberração. E isto, confesso, entristeceu-me muitíssimo e determinou que este encerrar de uma discriminação idiota me tivesse sabido mais do que a pouco muitíssimo mal.

alfacinha disse...

Parabéns Portugal

Joana Lopes disse...

Obrigada a todos. Pois é, io, fico contente por saber que concorda, também porque é jurista.
Eu sei e entendo que isto foi táctica por parte do PS, longe de mim não achar que foi uma vitória, mas esteve-se a um passo, possível, de algo bem melhor. É a politica...

Anónimo disse...

a legenda da imagem podia ser : "Anita vai ao Pride"

e sim, é aberrante que o legislador ao corrigir uma injustiça, crie outra(s).

Luisa disse...

O PS, falhou na adopção, faltou ponderação, e bom senso. . Foi um passo em frente, mas fica aqui uma grande lacuna.

Jorge Conceição disse...

Bem, não sei se estou na onda ou não dos entusiasmos e das preocupações associadas, nem me interessa muito isso. Apenas direi duas ou três coisas, talvez lapaliçadas, mas que são as que objectivamente me preocupam:
- As crianças, a adoptar por casais hetero ou homosexuais ou por celibatários sexuados ou não, não podem ser encarados como brinquedos de peluche ou como cãezinhos de companhia para almas solitárias ou necessitadas de calor humano. Elas existem, como tal! Por si próprias! Não podem ser o objecto de discórdia entre os diferentes tipos de opções de vida. (Nisso os hippies - de curta duração - tinham razão: são uma responsabilidade colectiva de quem os ama).
- Os casamentos hetero ou homo, ligações de facto não oficializadas (hetero e homo), ligações eventuais, celibatarismo, associações afectivas de grupo, etc., são opções igualmente dignas, se como tal assumidas em consciência, como talvez sejam indignas se assumidas aventureiristicamente, isto é, como um passatempo. E isto porque envolvem outros sentimentos que não apenas os pessoais. (Novamente se volta à referênia do, entre o "nós, vós, eles, etc.", se escolha geralmente o "eu").
- Nos slogans uma coisa me chateia sobremaneira: o "orgulho gay"! Tanto como o "orgulho branco"! Ou como o "orgulho nacional"! E as respetivas emanescências, como sejam as bandeiras nas janelas. E já acontecerqam om o futebol. Depois com as bandeiras no Natal (apesar da referência anti-consumista associada a esta celebração). E agora com a proposta de todos porem nas janelas as bandeiras arco-iris!... Palavra: deixei há muito de sentir solidariedade com estas manisfestações de carneirada acéfala! Espírito de grupo? Não, não o tenho. Sim, de solidariedade, mas não de grupo! Sobretudo quando o grupo se torna bloco monolítico.

Joana Lopes disse...

Essa das bandeiras arco-íris nas janelas escapou-me, Jorge. Está a ser pedido???

Anónimo disse...

A das bandeiras nas janelas foi sugerido por um dos comentaristas a um post "arco-iris" de Miguel Porta no Facebook, recolhendo a ideia duma campanha que tinha observado em Itália e na Austrália.

Jorger Conceição disse...

A ideia das bandeiras foi sugerida por um dos comentadores ao post "arco-iris" de Miguel Portas, que testemunhava campanhas análogas em Itália e na Austrália.