17.2.10

Pare, escute e peticione




Eu sei que o direito de petição vem de longe, que os ingleses o exercem há séculos e que o artigo 52º da nossa Constituição o consagra. Já o exerci, mas, ao fazê-lo, sempre julguei, na minha santa ingenuidade, que estava a pedir alguma coisa a alguém. Há uns dias comecei a duvidar das minhas certezas, hoje decidi consultar alguns dicionários e qual não foi o meu espanto ao verificar que afinal me dão razão: em resumo, uma petição pode ser oral mas é geralmente escrita, por uma ou mais pessoas que se dirigem a uma autoridade para exprimir uma queixa ou, mais frequentemente, para formular um pedido.

Ora este texto que nasceu Manifesto e se tornou Petição, com 1.827 assinaturas no momento em que escrevo, não tem destinatário (se repararem bem no cabeçalho, nada se segue ao «Para:»), também não exprime propriamente pedidos - é só «queixinhas».

Ficamos a saber que todas aquelas pessoas se consideram em «tempos que impõem uma tomada de posição». Mas que posição apresentam, para além de uma fotocópia sem rasuras do que diz o Governo, o PS e o primeiro-ministro? Qual é o valor acrescentado? «Tomam partido», sim, pelo partido a que pertencem e têm todo o direito de o fazer, sem dúvida. No entanto, é bom não esquecer que há mais quem defenda, mas não assim, «o interesse público e o sistema democrático».

Por fim: este texto deve ser lido apenas como «um grito de alma»? Se não é o caso, que objectivo concreto tem em vista? É um Plebiscito?

Só mais umas perguntas. Vão fazer exactamente o quê com as assinaturas? Serão entregues a quem, quando e onde? E estão a «peticionar», a pedir… mais precisamente…???

5 comments:

Manuel Vilarinho Pires disse...

Não será isto um mero ritual de integração, uma contagem de espingardas para uso interno?
Para ver quem merece ser reconduzido no conselho fiscal do banco, e quem vai ter de ir colar cartazes para o bairro da Bela Vista?

Joana Lopes disse...

Eu não disse isso, pois não, Manel?

Manuel Vilarinho Pires disse...

As mulheres têm mais jeito para ler nas entrelinhas do que os homens...

Joana Lopes disse...

Ou o contrário? :-)

Manuel Vilarinho Pires disse...

É uma ideia simpática, mas infelizmente não sustentada na realidade.
Quando um homem comenta um texto, afirmando o que ele diz nas entrelinhas, não é por ter conseguido decifrá-lo, mas por ter a mania de dizer coisas. :-(