9.3.10

Quando todas as vias parecem ir dar ao socialismo


Na sua crónica diária no JN de ontem (já sem link mas que reencontrei online aqui), Manuel António Pina comenta a afirmação de um deputado socialista, que não identifica, que teria afirmado que «a razão pela qual Portugal tem a precariedade e o desemprego que tem é em grande parte devido às estruturas sindicais, reaccionárias e de posições que sacrificam trabalhadores».

E comenta bem à sua maneira:
«A tese não é inovadora e teve grande sucesso em alguns países no segundo quartel do século XX (no nosso, durante mais de 40 anos). Conduz à conclusão de que, se a culpa de termos hoje 10,5% de desempregados é dos sindicatos, a solução final será (…) acabar com os tenebrosos sindicatos, assim saltando uns degraus nas "vias" do socialismo do actual PS, da 3.ª directamente para a 5.ª ou a 6.ª».

Independentemente de haver boas razões para criticar o anquilosamento de algumas estruturas sindicais e dos seus modos de actuação, e seja qual for o contexto em que a afirmação acima referida, a ser verdadeira, tenha sido feita, há um mínimo de sensatez e até de sensibilidade política que são exigidas a alguém que se diz «socialista» e que é obrigado a evitar exageros fatais de linguagem – isto com boa vontade da minha parte, já que prefiro admitir que o deputado em questão não pensa exactamente o que disse.

8 comments:

rafael disse...

Joana
a afirmaçao é do Joao Galamba, do jugular. Aparece citado na minha "casa", assim como no autoridadenacional.

Joana Lopes disse...

Não sabia, rafael. O que me diz só reforça o fim do meu post.

João Ricardo Vasconcelos disse...

Bem... Estou sem palavras perante a afirmação (que pelos vistos, até foi feita há 1 mês atrás). Não só pela susbtância, mas sobretudo por vir de onde vem. Têm sido sucessivos os delírios de João Galamba nestes últimos tempos.

Manuel Vilarinho Pires disse...

Joana,

O que o deputado pensa é: que mauzinhos (se fosse ouvido numa escuta telefónica os termos usados seriam outros) que são os sindicatos, que não tecem louvores ao magnífico governo do PS, antes fazem manifestações como se ele fosse de direita e não permitem ao eleitorado de esquerda perceber que deve apoiar entusiasticamente e de olhos fechados o Engº Sócrates e o PS...
Vou falar mal deles, e usar uma daquelas palavras que sei que os vai fazer espumar de raiva, reaccionários!

Ele até tem razão, mas naquilo em que não tem noção que tem razão.
É que há lutas dos sindicatos que contribuem para o aumento do desemprego.
Por exemplo, o salário mínimo provoca desemprego.
E o aumento do salário mínimo provoca aumento do desemprego.
De onde, a defesa sistemática do aumento do salário mínimo pelos sindicatos (e pelo governo do PS) contribuiu para o desemprego actual de 10,5%.

Mas, e correndo o risco de errar por não conhecer o pensamento político desse deputado específico, até sou capaz de apostar que nessas lutas ele estará do mesmo lado da barricada que os sindicatos.

Pelo que volto a fazer a mesma pergunta de sempre: para que serve a esquerda, o que anda a fazer a esquerda pelas pessoas porque pensa que se bate?

Joana Lopes disse...

Vai perguntando o que é a esquerda, Manel, um dia terás a resposta...

Quanto ao João Galamba, por favor deixem de o referir: não interessa quem disse, mas sim o que foi dito.
Eu até o conheço pessoalmente e acho que ele não «merece» ser o autor desta frase.

Jore Conceição disse...

Bem, apenas um comentário ao comentário de Maznuel Vilarinho Pires onde refere "o salário mínimo provoca desemprego.
E o aumento do salário mínimo provoca aumento do desemprego".

Pergunto: O Emprego é apenas uma questão estatística? Isto é, se em vez de se aumentar o salário mínimo, se o decesse, por exemplo para metade do seu valor, poder-se-ia com o valor dum salário mínimo pagar a dois empregados auferindo meio salário mínimo (actual). Assim o "desemprego" diminuiria, segundo tal perspectiva. E então poder-sia dizer que o desemprego havia diminuído para metade. Ora, volto a perguntar, é isto que interessa? É responder às estatísticas? Ou é lutar por um mínimo de dignidade de quem trabalha e que tem necessidades básicas (e secundárias) a suprir? O ordenado mínimo ganha um dos meus filhos e dá para ele se afguentar porque vive em minha casa (não paga habitação), toma cá duas refeições diárias (pequeno almoço e jantar), a roupa é lavada e tratada cá em casa (não paga limpeza), faz chamadas telefónicas gratuitas (porque o telefone é dos pais), não tem carro (usa os transportes públicos), etc.. Que vida poderia ele fazer se fosse totalmente autónomo? Se não existir salário mínimo então não haverá grande diferença com a escravatura. É isso que se pretende? Voltando ao meu filho: para ganhar o alário mínimo trabalha cerca de 12 horas diárias (sai de casa às 6H30 e volta perto das 20H30). Quando os Sindicatos lutam contra isto estão a pôr em risco a democracia neste País? Devemos desejar que a grande maioria da população viva em grandes dificuldades para que uns poucos possam ter uma democracia sem problemas? Bolas, para pensadores assim!!!

Manuel Vilarinho Pires disse...

Caro Sr. Conceição
Leu coisas que não estão no que eu escrevi, e sugiro-lhe uma segunda leitura para que possa comentar aquilo que eu digo, e não as suas fantasias àcerca daquilo que eu penso.
Mas tenho todo o gosto em explicar os factos.
Há empresas que pagam salário mínimo e proporcionam Ferraris aos seus proprietários.
Nestas, o aumento do salário mínimo não tem impacte no nível de emprego, porque o lucro é suficiente para o empresário preferir manter a empresa em actividade mesmo com o aumento de custos salariais, mesmo que tenha que prescindir da Ferrari e optar por um simples Porsche quando trocar de carro.
Mas também há empresas que pagam salário mínimo e têm lucros marginais.
Nestas, o aumento do salário mínimo, e o consequente aumento dos custos, coloca a empresa em situação de prejuízo, provocando o seu fecho e a perda dos postos de trabalho.
O aumento do salário mínimo tem pois consequências, nalguns casos, de mera transferência de riqueza, e noutros, de destruição de empregos.
Tudo somado, o balanço global é de destruição de empregos.
Visto de fora, pode-lhe chamar "estatísticas".
Visto pelas vítimas, os funcionários que ganhavam salário mínimo e agora vão para o desemprego, não são estatísticas.
São um drama.
E as suas "bolas para pensadores assim" não lhes vão devolver o emprego nem ajudar a ultrapassar esse drama em que os defensores do salário mínimo contribuiram para os colocar.
Mesmo que cheios de boas intenções.

Manuel Vilarinho Pires disse...

Joana,
Eu sou menos melga do que pareço!
Um dia que ache que a pergunta não tem utilidade, ou que não vou conseguir resposta, deixo de a fazer.
Mas a esquerda está tão impregnada de equívocos entre as boas intenções e os resultados desastrosos das suas opções que, por enquanto, ainda me parece que vai valendo a pena insistir...
;-)