A memória é uma realidade bem estranha porque acordei a associar a data de hoje a Tiananmen e, sobretudo, a «Cisnes Selvagens», sem identificar minimamente a razão.
Mas ela existia afinal: em 5 de Abril de 1976, deu-se naquela praça uma forte repressão policial – bem antes daquela que nunca esqueceremos, em 1989 – para impedir comemorações em honra de Zhou Enlai que morrera poucos meses antes. E eu devo ter guardado, sei lá onde e por que razão, a descrição que Jung Chang faz dos acontecimentos.
«A 8 de Janeiro de 1976, faleceu o primeiro-ministro Zhou Enlai. Para mim e para muitos outros chineses, Zhou representara um governo relativamente liberal e são de espírito que se esforçava por fazer o país funcionar. Nos anos negros da revolução Cultural, Zhou tinha sido a nossa única e débil esperança. (…)
[Na Primavera]Em Beijing, centenas de milhares de cidadãos reuniram-se na Praça de Tiananmen durante dias seguidos, para honrar Zhou com coroas de flores especialmente preparadas, leitura de versos apaixonados e discursos. Através de simbolismos e numa linguagem que, apesar de codificada, toda a gente compreendia, deram largas ao seu ódio contra o Bando dos Quatro, e até contra Mao. Os protestos foram esmagados na noite de 5 de Abril, quando a polícia atacou a multidão, prendendo centenas de pessoas. Mao e o Bando dos quatro chamaram a este movimento “um levantamento contra-revolucionário do tipo húngaro”».
P.S. - Estava a acabar de escrever este texto quando se fez luz quanto ao motivo da minha misteriosa recordação: há seis anos, eu estava em Pequim nesta data e, antes de ir, anotara no meu guia de viagem, à margem da descrição destes protestos: 5 de Abril de 1976. Lonely Planet forever, afinal!
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