Nos últimos dias, têm surgido aqui e ali (no Facebook, em mails, até num SMS enviado da reunião de intelectuais no CCB) conversas e comparações entre João Paulo II e Bento XVI, em geral com balanço positivo a favor deste último. Questão um tanto bizantina, à qual tenho respondido sistematicamente do mesmo modo: não consigo escolher, para mim são ambos «piores».
A rampa descendente começou logo quando Paulo VI (1963-1978) substituiu João XXIII (1958-1963), teve um patamar de esperança, durante um mês, quando João Paulo I foi eleito e antes que desaparecesse não se sabe ainda em que espécie de combate, e bateu no fundo (será?) com João Paulo II e Bento XVI.
Não sei se esta apreciação igualitária dos dois últimos papas tem raízes no meu ADN, já que sou neta de uma prussiana alemã que seria hoje polaca, mas a verdade é que não consigo, nem por um minuto, «preferir» uma pessoa apenas porque é indiscutivelmente mais inteligente do que outra mas que, perante os gravíssimos problemas da humanidade, defende, sempre e antes de mais, os princípios da sua «paróquia». Regressando ontem, em Fátima, como aliás seria de esperar, à condenação do aborto e à defesa da família «fundada sobre o matrimónio indissolúvel de um homem com uma mulher», Bento XVI quis mostrar que não desiste e fá-lo, de um modo geral, com uma insuportável sobranceria: «Cientes, como Igreja, de não poderdes dar soluções práticas a todos os problemas concretos, mas despojados de qualquer tipo de poder, determinados ao serviço do bem comum, estais prontos a ajudar e a oferecer os meios de salvação a todos». Sublinhe-se o «oferecer».
Adiante. João Paulo II ou Bento XVI? No «dar pr’á troca», só estou a ajudar o meu neto a completar a caderneta de cromos do Mundial de Futebol.
E a canção do dia é, obviamente:
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4 comments:
Papa é Papa e não se lhes pode pedir o que não têm para dar, e, se por acaso tivessem, não lhes seria permitido.
Por isso não fico surpreendido com as declarações papais. Em verdade, em verdade te digo (esta ficou-me da juventude), só as ouço por acaso. Melhor quando choco com elas via TV ou jornais. E tem sido um massacre.
Mas, como regra, acho que pior do que um papa é um papa inteligente. E tenho ouvido dizer que este papa é mesmo inteligente. Não posso confirmar.
Sendo ateu pouco me importa, internamente, o que diz o Papa. Mas interessam-me, claro, os seus efeitos [p.ex. gostei de João Paulo II exibindo longamente a sua velhice doentia e até decrepitude, contrariando o higienismo ocidental, que armazena os velhos em nome do culto e estética da saúde e juventude. Ao mesmo tempo que me irritava o marianismo do mesmo Papa, mais o ridículo terceiro segredo de Fátima, etc e tal]
Agora o que me surpreende é a irritação (ou desesperança, como se depreende do seu texto) daqueles que internos (o seu caso?) ou externos à igreja católica, face à manutenção nela dos princípios (dogmáticos alguns, outros não) que a norteiam. Muito em particular a questão do aborto e do casamento. Quer-se o quê? Que a igreja católica deixe de o ser?
jpt,
A igreja não deixaria de existir se tivesse outras posições, por exemplo sobre o aborto ou sobre o casamento - nem há «dogmas» envolvidos nestes casos!
Correria riscos de implodir como a URSS, com estas e muitas outras cedências? Talvez, mas só lhe ficaria bem corrê-los, na minha opinião. É bem pobre reduzindo-se sempre a posições defensivas.
as posições da igreja sobre tantas matérias não são exactamente actuais, e quantas vezes não sao "defensáveis" por quem lhe está fora. mas nao me parece adequado reduzi-las a "defensivas" só por isso - em relação ao casamento foram, quase sempre, muito "pro-activas" (é assim que se diz agora, nao é?, com hífen?). E nem sempre com sinal negativo à face das sensibilidades actuais. Quanto ao aborto, e ainda que eu não perceba de teologia, não sei se não lhes será impossível conceder em tal (ou seja, se não lhes vem de dogma).
Mas enfim, a mim chateia-me muito mais que possam dizer às pessoas que houve uma aparição em Fátima (um embuste organizado, da qual recolhem dividendos - coisa que a qualquer outra agremiação custaria processos por fraude) do que sejam contra modalidades de casamento ou de contracepção, algo que radica no seu direito à opinião.
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