11.6.10

África do Sul: a degenerescência do ANC


No dia em que (quase) todos «se instalam» no tal Cabo, cheios de esperanças, leia-se, pelo menos nos intervalos dos jogos, este texto publicado no excelente «Passa Palavra».

«O ANC, partido que liderou todo o processo de libertação nacional, tornou-se, ao fim destes anos de poder, um perigo evidente para a integridade da sociedade sul-africana. Em vez de um projecto político colectivo de transformação da sociedade, é hoje um instrumento de “progresso pessoal” de uma elite, com o consequente agravamento das desigualdades. (…)

Pode ser verdade que o peixe começa a apodrecer pela cabeça, mas é essencial compreender que a degenerescência do ANC não resulta apenas do aumento do poder de uma elite predadora dentro do partido. Houve um tempo em que se acreditou que o poder era um projecto político colectivo que iria transformar a sociedade de baixo para cima. Agora percebe-se, em todos os níveis do partido, que ele é um meio para a incorporação pessoal numa determinada minoria que se aproveita das crescentes desigualdades da sociedade. De certo modo, este processo, mesmo que conduzindo a uma desracialização da hegemonia, não deixa muito espaço para a esperança numa sociedade melhor, se a isso limitarmos as nossas aspirações.»

Na íntegra, aqui.
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5 comments:

septuagenário disse...

Se o ouro ainda vale ouro, estamos falando de um pais onde jamais haverá igualdade.

Se é verdade que o dinheiro não traz felicidade, estes tipos estão tramados.

Podiam comprar os nossos campos de futebol que fizemos em excesso e levar para lá uns corruptos nossos como cooperantes, para lhe ajudar a fazer desaparecer algum ouro.

Sem uma ajudinha, aquela gente vai ter dificuldades em governar tanta fartura.

Manuel Vilarinho Pires disse...

Joana,

Podias trocar ANC por MPLA e o texto teria exactamente a mesma validade.
Pior ainda, e digo isto porque quase me caiu o queixo quando há tempos me apercebi d', a notável extensão dos interesses da família de Graça Machel, através do grupo Whatana, de cujo capital parece deter uma quota de 60%, em sectores estratégicos da economia Moçambicana, com tantas semelhaças com os da família dos Santos em Angola.

Será que África foi atingida por uma fatalidade que impedirá sempre os africanos, não digo de serem todos remediados ou ricos, mas de não serem condenados a morrer de fome ou de doenças ridículas mesmo em países extraordinariamente ricos?
E será que o sentido ético que fez gerações de europeus e de africanos desejar e apoiar a libertação de África das potências colonialistas se esgotou no dia da sua independência, como se independência e libertação fossem a mesma coisa?

Rogério G.V. Pereira disse...

Só futebol não os livrará de convulsões graves. A menos que tenham lá sucedâneos para o nosso Fado e algo comparável à nossa Fátima. Facebook, terão certamente...

(É que nós evoluímos de 3 para os 4 Fs, nesta nossa alienada passividade)

Joana Lopes disse...

Muito boa essa dos 4 F's!!!

Pinto de Sá disse...

Entre outras coisas, é por isto também que a série "A Guerra" do Joaquim Furtado é tão importante como investigação histórica: porque nos mostra de perto o que eram os movimentos independentistas (a somar a outros trabalhos que têm vindo a ser publicados por actores dos próprios movimentos).
E a conclusão é que eles de facto NUNCA foram o que a visão europocêntrica dos intelectuais ocidentais fantasiavam. Slogans radicais havia, de facto - mas eram meros gritos identitários de grupo. Ocos.
Um dos problemas chave é que muitissimo raramente um movimento que tome o poder pelas armas abdica depois destas no exercício desse poder. Quanto à sua essência, uma coisa eram as palavras ditas e escritas, outra o que elas significavam para os próprios.