29.6.10

Os gregos, nós e o dr. Barroso


Escrita em Atenas, a crónica de Rui Tavares, no Público de ontem, caracteriza especialmente bem o conceito e o sentimento «da crise» e é leitura mais do que aconselhável, se não mesmo obrigatória.

«A palavra é grega; a sensação também. Para os gregos antigos, crise era um termo médico. Significado: crise era o momento na evolução de uma doença em que o doente poderia ficar muito pior, ou muito melhor.
Para os médicos modernos da crise, que são os tecnocratas em Bruxelas, os governos de Sócrates a Papandreou, e os comentadores um pouco por todo o lado, a palavra crise perdeu metade do seu sentido. Agora quer apenas dizer o momento em que as coisas estão mal e vão ficar consistentemente pior. Crise deixou de ser um momento; passou a ser um estado.
Visto de Portugal e da minha geração, crise passou a ser o nome da normalidade. (…)

É até um pouco perturbador; não consigo lembrar-me de quando foi que nos convencemos de que o máximo a que podemos ambicionar é que as coisas sejam um bocadinho menos más. Desistimos de tentar fazê-las muito melhores. Estamos a falhar.(…)

Entretanto, Durão Barroso decidiu fazer comentários sobre os riscos futuros da democracia grega. Esses comentários caíram aqui muito mal e, francamente, a dois passos da Ágora não parecem menos do que ridículos. Se Barroso quer reflectir na democracia em risco, poderia começar para a instituição que dirige. Ainda não me parece que os membros da Comissão possam dar lições de democracia a atenienses.»
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1 comments:

Manuel Vilarinho Pires disse...

O Dr. Barroso sabe de democracias... formado no conceito de "democracia popular", hoje em dia ainda em uso na Coreia do Norte, contribuiu de modo inesquecível para a "democracia angolana", na fase em que a seguir às eleições se organizavam milícias poulares para dar uma lição aos anti-democratas.
Ouçamo-lo com atenção...