30.7.10

Antes mouro que bimbo


Os 47,48% de eleitores do Porto, que votaram em Rui Rio para presidente da Câmara, têm a tacanhez e a saloiice que merecem. Não os outros que devem corar de vergonha.

Claro que isto vem, ainda, a propósito da recusa em dar o nome de José Saramago a uma rua do Porto. Que Rui Rio não o faça por motivos ideológicos, apenas o coloca ao nível de intolerância de uma Coreia do Norte – há vírus que atravessam continentes.

Mas há mais: baseada numa decisão da Comissão de Toponímia (que, antes dos seus mandatos, era constituída por vereadores e, por proposta do presidente, tem actualmente apenas «personalidades de relevo na vida da cidade»), a maioria PSD/CDS rejeitou a proposta da CDU, por Saramago não ter «ligação ao Porto». A dita Comissão terá decidido, em 2002, «apenas aceitar propor nomes de cidadãos com ligação directa ao Porto para ruas da cidade». Lê-se e pasma-se. Quem discrimina o quê? Depois queixem-se!

Entre vários exemplos, justifica-se assim que o nome de Amália Rodrigues não figure em nenhuma placa portuense. Recorde-se: em Junho deste ano, foi inaugurado, em Paris, um pequeno jardim com o seu nome. «Cela fait toute la différence.»

...

23 comments:

jpt disse...

na mouche

Francisco Castelo Branco disse...

mas eu nao percebo porque é que o Sr. agora tem de ter nome em todas as ruas do pais.

Ele que tenha uma rua nas Lanzarote.
Foi ai que viveu a vida toda.
Contra o regime

Vitor M. Trigo disse...

Coisas da província...

Joana Lopes disse...

Francisco C. Branco, um pouco de rigor, sff, antes de escrever a primeira coisa que lhe passa pela cabeça:
Saramago viveu «a vida toda em Lanzarote»? E «contra» que «regime»????

Francisco Castelo Branco disse...

Foi para la viver não concordando com aspectos relacionados com o regime. Nomeadamente com a falta deste em lhe dar reconhecimento....

Ele adoptou Lanzarote como a sua terra...

Joana Lopes disse...

Claro que não foi essa a razão pela qual Saramago foi para Lanzarote. Faça umas pesquisas no Google e regresse aqui com a resposta exacta... Vai ver que não tem razão.

Francisco Castelo Branco disse...

CAra JOana

nao preciso de ir fazer uma pesquisa no google.
Pior ainda é a mulher dele agora querer vir obter nacionalidade portuguesa.
Todos sabem do episodio em que Saramago quis ser espanhol!

Manuel Vilarinho Pires disse...

Eu, não concordando com o 2º, o 3º e o 4º parágrafo do Sr. Francisco Branco, subscrevo no entanto o 1º.
Porque carga de água há-de parecer obrigatório dar o nome de Saramago a uma rua e invectivar como saloio ou tacanho quem não concorda com a homenagem?
Por ter ganho o prémio Nobel da literatura? Se tivesse ganho o Euromilhões também o mereceria? Ou a Bota de Ouro para o melhor jogador do mundo? Ou os Paralímpicos, para quem, tendo de ultrapassar no dia a dia sacrifícios inimagináveis, ainda se dedica a sacrifícios adicionais para conseguir proezas atléticas?
Eu até aceito que, dada a forma irresistivelmente pouco discreta como ele exibia a sua vaidade, essa recusa possa parecer agressiva para com o vaidoso.
Mas não cultivou ele a encenação da agressividade com os seus adversários?
A encenação com os poderosos, sublinhe-se, porque aos pequeninos esmagou-os, despediu-os sem processo disciplinar, sem justa causa, sem indeminização, sem direito a subsídio de desemprego, enfim, dando corpo à sua visão pessoal dos direitos dos trabalhadores... quando teve a faca e o queijo na mão, e teve...
Enfim, será por mais do que a oportunidade de ser usado como arma de arremesso entre a esquerda e a direita, numa luta que ainda está viva?
Por vezes, parece.-me que sim... se bem que, se eu fosse de esquerda, nunca seria capaz de olhar para ele como um homem de esquerda...

Francisco Castelo Branco disse...

Um homem que teve o comportamento que teve perante o país agora quer uma rua?

Joana Lopes disse...

Manel,
Já me leste o suficiente para saber da minha não simpatia por Saramago - nem sequer como escritor, quanto mais como director do DN.

MAS não mandou propriamente pessoas para as câmaras de gás. E agora vou ser má porque sei que admiras a pessoa de quem vou falar: nunca me ouvirás vociferar se estiver em questão dar o nome de Adriano Moreira a uma rua - embora tenha sido ministro de Salazar, ainda por cima do Ultramar e durante a guerra colonial.

Joana Lopes disse...

Castelo Branco: QUAL comportamento??? É o último comentário seu a que respondo se se recusar a responder às perguntas concretas que lhe faço.

Francisco Castelo Branco disse...

Qual comportamento?

criticou o PM Cavaco por não ter apoiado o seu Nobel.
Fez birrinha com o país e foi para Lanzarote encontrar apoio. Mais tarde quis a nacionalidade espanhola como forma de fazer pressão para que o governo de então lhe homenageasse.
Também na questão do seu livro o Evangelho Segundo Jesus Cristo esteve muito mal.

Não pode fazer birrinha só porque o poder politico não apoia as suas obras

Manuel Vilarinho Pires disse...

Joana, não é maldade nenhuma.

Eu de facto admiro o Adriano Moreira, e parece-me (é verdade que não o conheço para além da figura pública) um homem de princípios sólidos e correctos, íntegro e inteligente.
Um tipo decente, em resumo (e isto é o maior elogio que alguém pode ouvir da minha boca).
E o Saramago não...

Tinha 6 anos quando ele se demitiu de Ministro do Ultramar, e não tenho naturalmente nenhuma opinião fundamentada sobre o seu papel no cargo. Aceito como plausível que possa, como outros (até talvez o Marcelo Caetano), ter entrado para o governo com boas intenções que a história demonstrou que eram irrealistas.
A saída resumiu-a muito sucintamente aqui: http://www.youtube.com/watch?v=Wn14N3wfeTY

O Saramago não mandou ninguém para a câmara de gás... mas também é verdade que não havia câmara de gás na época.
Mas a forma como se assumiu como comissário político na circunstância em que o foi e a desumanidade com que espezinhou as vítimas da sua missão, não me deixam grandes dúvidas sobre o que seria capaz de fazer se chegasse a ser chamado a desafios mais altos...
Para falar verdade, nem é como escritor, nem como director do DN que o acho pouco recomendável... é mesmo como ser humano!

Mas o meu comentário não quis ser sobre ele, mas sobre o que parece ser uma posição quase obrigatória, a de o homenagear, seja pela toponímia, pela sepultura, qualquer dia, quem sabe, pela escultura(?), o Saramago, e de menosprezar quem dela discorda.

PS: se o Saramago tivesse ganho a revolução, hoje a Praça do Areeiro não teria o nome ridículo de Praça Francisco Sá Carneiro, e não seria pelo ridículo do nome, mas por intolerância ao nível de uma Coreia do Norte. Certo?

septuagenário disse...

Está visto que muitos não irão embarcar na jangada.

Exemplo das touradas catalãs (quiçá das bascas), e agora o nosso Porto carago!

A este propósito tenho para mim que devemos recorrer à regionalização o mais rápido.

E a selecção da regiões devem ter um motivo apenas folclórico, não geográfico, mas o povo é que deve votar.

Nem que tenha que haver sub-regiões. E que haja o maior número de regiões, para contentar a todos.

Que cada um fique com os seus herois. E com a sua capital própria!

Anónimo disse...

Se fôssemos estudar com atenção a biografia de cada um que dá nome a ruas de Lisboa , Porto ou qualquer outra cidade, ficaríamos com um rico catálogo de infâmias. Se fôssemos adoptar a virtude como característica essencial para se ser homenageado na toponímia urbana, o melhor seria passar a dar números às ruas, ou nomes de flores, sei lá.
José Saramago foi um escritor de relevo em Portugal e no mundo - goste-se ou não se goste dele (e eu nem gosto.) Por isso não vejo porque não se há-de lhe dar o nome a uma rua, quando tantos lá estão por muito menos.
Tou consigo, Joana. Toda esta discussão nasce de uma tacanhez básica.

Vitor M. Trigo disse...

Tacanhez, JPB, é pouco.
Juntar-lhe-ia menoridade, frustração, mesquinhez.
Mas quem não se sente bem consigo próprio, como pode encarar o êxito e a paz dos outros? Mal, claro.
Como se pode atacar a intimidade doutros (no caso, a lindíssima ligação JS com PdR), quando porventura apenas os conhecendo por fotografia?
Há gente que parece precisar de se por em bicos de pés para chegar ao chão.
Calculo que poucos países tratem assim os seus Saramagos.
Enquanto sociedade nós (os portugueses) somos bem bacocos.
Mal para nós. Mas gostamos tanto de dizer mal dos outros que são melhores do que nós.

Manuel Vilarinho Pires disse...

JPB,
Está cheio de razão, a toponímia está cheia de nomes de infames...
Se bem que isto não seja motivo para defender o acrescento de mais infames à lista.
Mas, como eu tinha dito antes, "o meu comentário não quis ser sobre ele, mas sobre o que parece ser uma posição quase obrigatória, a de o homenagear ... e de menosprezar quem dela discorda". Reescrevendo isto de outro modo, não disse que fico escandalizado se derem o nome dele a uma rua, disse é que também não fico se não derem, e não vejo na recusa motivos para lançar impropérios.

Vítor,
Estás cheio de razão e eu aceito esses impropérios todos, se bem que tenha uma imagem de mim próprio um pouco mais favorável, talvez por vaidade... :-)
E também tens razão ao deplorar o comentário à relação conjugal do JS sem conhecer pessoalmente os membros do casal. Se bem que tu próprio cedas a essa tentação ao descrevê-la como uma "lindíssima ligação" sem também os conhecer pessoalmente (a não ser que os tivesses conhecido, caso em que retiro já este comentário).
Eu tenho que confessar que, se não me considero tacanho, menor, frustrado nem mesquinho, tenho uma certa dificuldade em entregar-me à idolatria e, quando a vejo chegar, também tenho dificuldade em ficar calado... sei que se visse formar-se um movimento religioso à minha frente teria a mesma dificuldade em ficar calado... mau feitio, talvez?

Joana Lopes disse...

Pois, Vítor, estive para comentar essa da «lindíssima ligação de JS com PdelR», que o Manel agora refere. Talvez por não me nunca me terem despertado qualquer tipo de empatia (os protagonistas), as manifestações públicas da dita relação até sempre me incomodaram um pouco...

Manuel Vilarinho Pires disse...

Eu acrescento até, correndo o risco de passar a fronteira da tacanhez, que não conheço ninguém que os tenha conhecido, mas conheço quem tenha conhecido e sido amiga de outras mulheres do Saramago e, podendo não ser imparcial na avaliação que faz por via dessa amizade, nenhuma traz o testemunho do homem encantador que aparece publicamente nessa "lindíssima ligação"...
Mas por aqui não quero continuar para não correr o risco de ser eu próprio a considerar-me tacanho, o que me desgostaria.

jaa disse...

Não voto no Porto e não me importo particularmente de que todas as ruas de todas as cidades portuguesas tenham o nome de Saramago (bom, todas menos quatro, que convém deixar espaço aos outros heróis da história portuguesa: Amália, Eusébio, Figo e Cristiano Ronaldo*). Mas, seguindo a sua lógica, os 36,55% de eleitores nacionais que votaram PS nas últimas legislativas têm a crise que merecem.

* E talvez possamos deixar umas travessas ou uns becos para gente como Camões, D. Afonso Henriques e Nuno Álvares Pereira.

Joana Lopes disse...

Exactamente jaa, quanto ao que diz sobre os eleitores do PS - coisa que eu não sou.

João Pedro disse...

Não votei em Rui Rio, mas pensar que os que nele votaram quase metade dos eleitores - são todos "tacanhos" é puro desdém ideológico. Conheço muitos desses eleitores e garanto que não são "provincianos" ou "mesquinhos". Por vezes há coisas mais importantes do que meras questões de toponímia e que dizem mais ao comum dos mortais, embora muitos prefiram falar em "razões economicistas".
Acho esta norma da toponímia portuense um disparate, mas acho igualmente um oportunismo descarado atribuir-se já o nome do escritor a uma rua do Porto, qual Miguel Bombarda ou almirante Reis. Eugénio de Andrade e Sophia morreram há mais tempo e que eu saiba ainda não estão nas ruas da cidade.

Anónimo disse...

Ó Iluminados: ficai lá co bosso dótor e não chateeis a molécula.