Num blogue do Público (Espanha), é divulgada hoje, na íntegra, uma importante entrevista a Étienne Balibar, filósofo francês, co-autor de Lire le Capital, com Louis Althusser, entre outros, e de Race, Nation, Classe, com Immanuel Wallerstein.
A entrevista em questão - «Frente a los nacionalismos reactivos, nos hace falta un populismo europeo» – teve como ponto de partida a recente publicação de um texto de Balibar: «Europe: crise et fin?»
Duas leituras vivamente aconselhadas. Um excerto da segunda:
La Gauche en Europe ? quelle « gauche » ?
De telles forces constituent ce que traditionnellement, sur ce continent, on appelait la Gauche. Or elle aussi est en état de faillite politique : nationalement, internationalement. Dans l'espace qui compte désormais, traversant les frontières, elle a perdu toute capacité de représentation de luttes sociales ou d'organisation de mouvements d'émancipation, elle s'est majoritairement ralliée aux dogmes et aux raisonnements du néo-libéralisme. En conséquence elle s'est désintégrée idéologiquement. Ceux qui l'incarnent nominalement ne sont plus que les spectateurs et, faute d'audience populaire, les commentateurs impuissants d'une crise à laquelle ils ne proposent aucune réponse propre collective : rien après le choc financier de 2008, rien après l'application à la Grèce des recettes du FMI (pourtant vigoureusement dénoncées en d'autres lieux et d'autres temps), rien pour « sauver l'euro » autrement que sur le dos des travailleurs et des consommateurs, rien pour relancer le débat sur la possibilité et les objectifs d'une Europe solidaire...
Que se passera-t-il, dans ces conditions, lorsqu'on entrera dans les nouvelles phases de la crise, encore à venir? Lorsque les politiques nationales de plus en plus sécuritaires se videront de leur contenu (ou de leur alibi) social? Des mouvements de protestation, sans doute, mais isolés, éventuellement déviés vers la violence ou récupérés par la xénophobie et le racisme déjà galopants, au bout du compte producteurs de plus d'impuissance et de plus de désespoir. Et pourtant la droite capitaliste et nationaliste, si elle ne reste pas inactive, est potentiellement divisée entre des stratégies contradictoires : on l'a vu à propos des déficits publics et des plans de relance, on le verra plus encore lorsque l'existence des institutions européennes sera en jeu (comme le préfigure peut-être l'évolution britannique). Il y aurait là une occasion à saisir, un coin à enfoncer. Esquisser et débattre de ce que pourrait être, de ce que devrait être une politique anticrise à l'échelle de l'Europe, démocratiquement définie, marchant sur ses deux jambes (le gouvernement économique, la politique sociale), capable d'éliminer la corruption et de réduire les inégalités qui l'entretiennent, de restructurer les dettes et de promouvoir les objectifs communs qui justifient les transferts entre nations solidaires les unes des autres, telle est en tout cas la fonction des intellectuels progressistes européens, qu'ils se veuillent révolutionnaires ou réformistes. Et rien ne peut les excuser de s'y dérober.
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6 comments:
Cara Joana,
Deixo este link: http://anticap.wordpress.com/2010/07/01/crises-of-capitalism%E2%80%94illustrated/
É uma conferência ilustrada do David Harvey. Parece-me interessante.
Quanto às ideias avançadas pelo Balibar, recordo-me de algo que pode, ou não, ser relacionado com elas. O Bloco de Esquerda tem um cartaz, de grandes dimensões, em que se afirma "eles nunca apertam o cinto", ou semelhante. Os bustos do costume - Mexias, Bavas, Farias de Oliveira, etc. - encimam-no. Ocorreu-me dizer que a Esquerda, talvez a europeia, talvez somente a portuguesa, se perdeu no lado obscuro da lua. Ainda não lhes ocorreu que não se arregimenta nem mobiliza ninguém com estas ideias banais e conspiratórias. Creio mesmo que ainda não vi um movimento organizado com o desiderato de propôr modos de organização que abandonem a posição defensiva e sustentem a sua independência cognitiva do capitalismo. Por princípio, não sou anticapitalista; sou apenas um interessado nestas questões. A economia solidária e cooperativa seria um excelente modo de encetar esse caminho. Talves procurem fazê-lo, mas precisam de publicitá-lo com maior eficácia.
Obrigada pelo seu comentário, lpb, com o qual estou globalmente de acordo.
Conheço o vídeo, ainda hei-se pô-lo aqui.
(Já agora: é impressão minha ou «lpb» corresponde a iniciais de alguém que conheço muito bem?)
Hello, Joana Lopes: Bom trabalho e bons caminhos: muita clareza, muita simplicidade e crescente dinâmica. A Médiapart é dirigida por um antigo redactor-em-chefe do Le Monde,o célebre ex-trotskista, Edwy Plenel, e com êxitos- scoops assinaláveis já na Net. O proprietário é Xavier Niel, um dos três mosqueteiros que " agarraram " o Le Monde, deixando a morder o pó Alain Minc e Nicolas Sarkozy... Ontem vinha uma entrevista com outro ex-althusseriano, Jacques Rancière, no Le Monde. As questões são muito dificéis e enviesadas porque eles, com mais ou menor sofisticação, falam de cátedra... Gosto bastante do Rancière, que escreveu um livro maravilhoso a " desmontar " o sistema de pensamento do Louis A. A Esquerda tradicional- sobretudo a social-democrata- não apresenta soluções de ordem nenhuma. A melhor coisa que fazem é colar-se ao estilo Obama.E mesmo assim com " demagogos " estilo Sarkozy a coisa não é fácil. Aliàs, no Herald Tribune de ontem e de Hoje há uns bons artigos sobre a Recuperação Económica a despertar na Alemanha, no sector da Construção Automóvel, cluster muito forte, e também nos EUA, com a indicação das discussões estratégicas de Economia no interior do staff presidencial de Obama. Um " must", pois. Bom Vento! Niet
Joana, creio que não. Consulto, apenas, o seu blog, como refúgio das patacoadas da esquerda viciada em hélio. Pior para eles, quando cidadãos preocupados se cansam de balões inchados como eles. Melhor fora se estivessem inflados por ideologias; o pior é que é apenas ego e vaidade intelectual. Ainda assim, mal irá o mundo quando rebentarem; o pensamento único terá vencido. Continue a postar, por favor, o seu blog vale a pena.
Joana
Num mundo globalizado em termos financeiros e de informação, e em adiantado estado de fluidez, é pertinente questionar mais que estes textos sugerem:
qual esquerda?
qual direita?
qual Europa?
entre 1989 e 2008, a todos foi puxado o tapete por debaixo dos pés e é quase caricato ver os protagonistas tradicionais destes paradigmas a tentar navegar à vista dos acontecimentos e das tendências.
Verdadeiramente, ninguém sabe o que vai acontecer a seguir. De entre a dialéctica primária entre quem produz, quem consome, quem paga a factura e quem fica com os lucros, espera-se que saiam novos paradigmas que justifiquem o novo arranjo.
E que daí reste alguma liberdade, oportunidade e decência para alguns de nós, apanhados neste vendaval.
ABM,
Não estou em desacordo com nada do que escreve, mas, precisamente porque novos paradigmas são indispensáveis, é que todos os contributos são poucos - de quem tenha sido protagonista ou não. E este pareceu-me interessante.
Claro que não se pode pensar nem a esquerda, nem a Europa fora do contexto da globalização e da fase sem fim à vista que estamos a atravessar. Mas também não me parece que seja o caso deste texto.
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