Os ânimos ainda não se acalmaram depois das polémicas afirmações de Sarkozy, no passado dia 30 de Julho, em Grenoble.
A ler, na íntegra, um texto de Bernard-Henri Lévy:
« On peut discuter […] des conditions qui permettent d'accéder à l'être-Français ; on peut les multiplier, les affiner, les durcir, les solennise : mais que l'on laisse s'insinuer l'ombre de l'idée qu'il y aurait deux classes de Français selon qu'ils sont nés Français ou qu'ils le sont seulement devenus, que l'on se laisse aller à imaginer un ordre des choses où il y aurait les Français à l'essai et les Français pour toujours, les Français en sursis et les Français sans débat, les Français qui restent Français même s'ils commettent des actes de délinquance et ceux qui cessent de l'être parce qu'ils ne l'étaient, au fond, qu'à demi […] n'est tout simplement pas concevable. »
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10 comments:
Para o Ministério da Saúde de Portugal, na Nazaré, há portugueses tipo A e portugueses tipo B: os "turistas" podem ter acesso ao SAP (Serviço de Atendimento Permanente), que abre em Agosto durante o dia para os poder receber; os "nativos" não podem.
Pode-nos dar imenso prazer desmascarar as afirmações do idiota do Nicolas Sarkozy; mas é muito mais útil desmascarar as realidades do Governo português.
Eu li essa notícia - aliás confusa. Os nativos tinham de ir a um sítio, USF, se não me engano, durante o dia e ao SAP só quando a USF estava fechada.Descriminação? Certamente, mas, em todo o caso, estamos a falar de questões de gravidade totalmente diferente: ir a uma outra unidade hospitalar ou perder a nacionalidade. Não?
Uma analogia tem sempre pontos diferentes e pontos semelhantes.
O princípio de descriminar "nativos" face a "turistas" é muito colonialista, no pior sentido do termo.
Se a população da Nazaré protesta, pode ser por não ser equivalente ser atendido na USF e no SAP.
Não conheço umas nem o outro, mas se as USF forem semelhantes ao CS da Reboleira, onde as pessoas que necessitam de uma consulta de urgência formam filas na rua desde madrugada na esperança de às 9:00 ainda haver senhas que lhes dão acesso a uma consulta durante o próprio dia, e o SAP for semelhante ao SAP da Marinha Grande, que funciona, salvo a diferença de escala, como a urgência de um hospital, atendendo todos os utentes por ordem de chegada e/ou gravidade avaliada numa triagem, não é nada equivalente.
Se a diferença for tomar uma Aspirina mais cedo ou mais tarde, pode ser quase irrelevante. Mas se for mostrar a um médico um sintoma de alguma coisa grave, pode ter consequências mais graves do que perder a nacionalidade.
Mas o princípio está lá: "turistas" e "nativos".
Manuel,
é a esta notícia que te referes?
http://www.ionline.pt/conteudo/72877-nazare-populacao-revoltada-sap-ter-horario-diferente-turistas
Sim, Vítor
Então parece-me que existem interpretações diferentes.
Do que eu leio:
1. A Nazaré passou de 1 SAP para 2 USF.
2. Uns dizem que a população não pode ir ao SAP (a determinadas horas),pois é só para turistas; outros dizem que os turistas só podem ir ao Sap, estando-lhes vedado o acesso às USF.
Ora, isto parece-me completamente lógico pois as USF são isso mesmo Unidades de Saúde Familar, onde teoricamente toda a população encontrará o seu médico de família.
Não faz sentido ocupar os médicos de família com vistantes que são isso mesmo visitantes. No limite, estes terão os seus médicos de família nas suas zonas de residência.
O que me parece estar a passar-se é a reacção normal à mudança - as pessoas sentem que perderam algo, mesmo que isso fosse impróprio ou deficiente.
Pessoalmente, acho que a conceito USF, tendencialmente com visitas ao domicílio, é a boa solução.
Custa dinheiro? Pois custa, e levará tempo a pegar.
Conheço alguns SAP, em particular o da Azambuja. Custou uma pipa de massa. Tem instalções excepcionais, novas, bonitas, acolhedoras. Foi inaugurado à cerca de 3 anos.
Para que serve?
Para muito pouco - Médicos de família só para cerca de 60% da população.
As consultas só servem para "passar remédios" e é por isso, e só por isso, que a sala de espera está sempre a abarrotar.
Não existem meios elementares de diagnóstico - nem análises, nem radiologia.
Enfermagem? Nem pensar. Para teres um exemplo - a minha mulher espetou uma limalha num olho. Fomos ao SAP. Nem o médico nem a enfermeira foram capazes de resolver o assunto. Ao fim de 1 hora decidiram que tinhamos de ir para VF Xira, e só depois poderíamos ir a Lisboa, se fosse necessário.
Prescindi do serviço dos bombeiros, e fui a São José, onde uma enfermeira na hora retirou a limlha... com um cotonete. E fartou-se de rir, pois acabará de retirar uma pestana a uma doente que viera de urg~encia de Faro.
Isto assim realmente custa uma fortuna, não serve para nada e tem de mudar. Este SAP fecha às 20:00. Toda a população protesta.
Sabes quantos doentes eram atendidos nesse período? A média era inferior a 0.3 por noite, mas as instalações tinham de estar abertas, guardadas e com um minímo de pessoal médico que não sei quantificar.
Assim não há dinheiro que chegue para a saúde em Portugal. É urgente alterar isto - as USF locais e os hospitais regionais são a solução. acho eu.
Entendam-se, ó doentes, que eu nunca fui a nenhum SAP, nem sabia que existiam USF's (cheira a sigla do PREC, esta...)
Meus amigos,
O conceito de USF parece semelhante ao do Centro de Saúde da Reboleira, que é uma espécie de consultório onde os médicos de família dão as consultas, normalmente marcadas com alguma antecedência, aos doentes que lhes estão distribuídos.
Além disso também é lá que são dadas as vacinas do plano nacional de vacinação.
Tem uma enfermaria que faz os tratamentos prescritos pelo médico de família do CS ou por outro médico de um hospital, com marcação prévia.
Quando um doente precisa de uma consulta urgente, por exemplo por estar doente :-), ou precisar de baixa, são distribuídas 15 senhas a partir das 9 da manhã por ordem de chegada aos primeiros 15 candidatos a uma consulta nessa manhã e outras 15 às 2 para as urgências da tarde, o que explica as tais bichas.
Só atendem, obviamente, os doentes cadastrados no CS, e os que não têm médico de família nem sei bem dizer como fazem...
O conceito de SAP, dos que eu conheço (Marinha Grande, Monção, Melgaço), é uma espécie de mini serviço de urgência que tem capacidade para resolver pequenas coisas e manda para um hospital maior (da Marinha Grande para Leiria, a 10km, de Melgaço e de Monção para Viana do Castelo, a 90 e 76km), com uma credencial, os doentes com problemas que não tenha capacidade de resolver localmente.
Pelo que contas, acumula estas funções de urgência com as funções de consultório para os doentes da zona, lá cadastrados, com ou sem médico de família distribuído.
Parece uma descrição muito burocrática? A mim, parece... mas é assim que funciona, e é talvez uma das razões de os dirigentes do Ministério da Saúde estarem lá há décadas, e os ministros passarem a vida a ser "substituídos a seu pedido" depois de darem a cara pelas asneiras do Ministério.
Significa isto que, quando se tem uma limalha no olho, o CS não atende o doente, a não ser que consiga a tal senha para uma consulta "urgente", significando "urgente" no próprio dia, podendo ser muitas horas depois de chegar à bicha, ao contrário do SAP, que atende o doente logo (em função da afluência) e resolve o problema se tiver capacidade para o fazer.
A USF serve para as concultas regulares, planeadas e marcadas, e as "urgências" para passar baixas (por exemplo, o governo anterior determinou que só os médicos dos CS podem passar baixa aos funcionários públicos, e deixou de aceitar as baixas passadas por médicos convencionados com a ADSE).
O SAP, além disso, serve como urgência de primeira linha.
A USF não substitui portanto o SAP nesta função.
Suponho que os nazarenos com limalha no olho devem ser obrigados a ir às Caldas para a tentar remover, enquanto os turistas são atendidos no SAP da Nazaré. E quem diz limalha no olho também pode estar a dizer dor no peito...
(será que alguém chegou aqui sem desistir de ler este comentário tão longo?)
Finalmente, eu compreendo que seja necessário fazer contas para perceber se se justifica manter um SAP aberto, não me vês entre os defensores mais aguerridos do Estado social. Mas raramente todos os custos são trazidos às contas. Se se somarem aos custos do Ministério (esses que enumeraste) os custos dos utentes (a gasolina, o táxi, a ambulância dos bombeiros), uma solução que parece a mais eficiente olhando só para uma parcela pode não ser a mais eficiente olhando para todas as parcelas. E por vezes estas parcelas dos utentes podem ascender a valores violentíssimos para o seu poder de compra...
Eu tenho vergonha de em Portugal se fecharem maternidades com argumentos de segurança, por terem menos de não sei quantos partos por ano, para forçar alguns partos a ocorrer em ambulâncias, com a segurança que é fácil perceber...
Resumindo,
como não sou adepto de teorias de conspiração:
1. não ando à procura de "notícias" mal dadas por jornalistas que não têm como primeiro objectivo informar.
2. procuro enfatizar o que de bom se vai fazendo, em vez de andar preocupado com algo que ainda vá correndo menos bem.
3. acredito que unidades mal equipadas (maternidades, SAPs, CS, e outros) devam ser substituidos por algo tecnicamente mais seguro (uma maternidade, pe, que não tenha meios de intervenção de urgência cardiovascular, pe, não é solução, é um problema).
Continuo a pensar que não leste bem a "notícia" do i: uma coisa é desviar turistas para o SAP, num período bem delimitado pelas férias, outra é dizer-se que os "nativos" estão proíbidos de lá ir. Não é essa a questão. Os "nativos" tinham um SAP e passaram a ter 2 USF. E foi isso que eu li, de relevante, no texto publicado.
Agora, como se costuma dizer, quando não se quer ver não se vê mesmo.
Quanto ao estado social - eu sou partidário, pelo menos enaquanto as pessoas não puderem pagar seguros privados.
Um exemplo: a minha sogra tem 87 anos é viúva e vive comigo por absoluta necessidade (claro que a podia "por" num lar, mas acho que ela, que deidcou toda a sua vida à família, não merece esse abandono).
No ano passado, devido a uma perda de sangue súbita e sem explicação aparente o CS de Azambuja decidiu que ela precisava de ser internada com urgência. Devido à sua avançada idade, pensei que o internamento via SNS poderia ser o fim dela.
Recorri-me do Hospital da Luz. Em 4 dias, durante os quais não foi dectectado nada de anormal, paguei 6870 €. Acessível para quem tem uma reforma que não chega aos 500 €...
Agora está a ser seguida na USF, todos os meses, pelo seu médico de família SNS, tudo parece sob controlo.
Ah, IMPORTANTE, as consultas podem ser marcadas pela internet, sem bichas portanto.
Esta é um enorme diferença entre um SAP e uma USF.
É disso que eu falo. São estes bons exemplos que procuro conhecer para poder apoiar.
Perceste, agora, porque reagi à "notícia" do i?
Vítor,
No CS da Reboleira também se podem marcar consultas pela net ou por telefone. Eu até me pergunto se se chamará ainda CS ou se já terá sido rebaptizado USF, de tão semelhante ao que me relatas aí da Azambuja.
Mas urgências, consultas para o próprio dia, só nas bichas.
Já tive que ir aos 3 SAP que exemplifiquei, e fui atendido logo, na minha vez obviamente, como seria na urgência de um hospital.
Uma urgência é diferente de uma consulta programada, e nem uma nem duas USF podem num caso desses substituir um SAP. A opção para um nazareno sem SAP numa urgência não é ir a uma das duas USF da Nazaré, mas ir ao hospital das Caldas da Rainha...
A notícia não me parece forjada pelo jornalista, e o descontentamento dos nazarenos não deve ser só devido a mau feitio ou má fé perante as realizações do Ministério da Saúde...
Eu compreendo a tua opção de teres levado a sogra ao Hospital da Luz... mas tenho alguns amigos médicos e já percebi que eles consideram os hospitais privados bons para prescrever aspirinas e tirar radiografias ou fazer pensos, e os do SNS bons para tratar doenças, nomeadamente as graves, e todos tiveram os filhos no SNS.
Já "vivi" durante semanas entre a Pediatria e a UCIP de um hospital do SNS, o Amadora Sintra, e tenho uma admiração IMENSA pela maioria dos profissionais que lá encontrei, nalgumas situações verdadeiros super-heróis a tentar salvar vidas de bebés e crianças, nem sempre com sucesso. E as aberrações do sistema também não me passaram ao lado.
E tenho uma experiência do Hospital da Luz que foi de uma inqualificável "caça ao dinheiro".
Na tua situação, teria levado a senhora a um hospital do SNS, mesmo sacrificando a qualidade da componente de "hotelaria" do internamento.
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