11.9.10

Distinguir para não baralhar


«O reverendo já não vai queimar o Alcorão. Ainda bem, porque os livros não são para queimar. No entanto, quero dizer: o tal Terry Jones tinha, e tem, o direito de queimar o Alcorão, logo que o livro lhe pertença. Ou a Bíblia, ou a bandeira americana ou, se eu lho tivesse dado, o meu livro de cromos do Benfica Campeão Europeu. É cretino, já o disse, queimar o Alcorão como manifestação de desagrado ao livro. Mas a liberdade de expressão é também para os cretinos, e era isso que era - e só isso, liberdade de expressão - o acto que Jones ameaçou praticar. Todo o cretino deve poder dizer a cretinice de que o Alcorão é para queimar. Felizmente para os Estados Unidos, a Primeira Emenda da sua Constituição defende a liberdade de expressão, que é, aliás, uma das razões de eles serem um grande país. Foi também usando essa liberdade de expressão que Obama se opôs. À liberdade de expressão do cretino ele opôs a sua liberdade de expressão de homem que, apesar de muito forte, só usou a sua liberdade de expressão para combater o outro. Ainda bem. E se tudo corresse mal, e Jones tivesse queimado o Alcorão e por causa disso alguém fosse morto, não se devia confundir: Terry Jones continuaria a ser só um cretino e o assassino passaria a ser um assassino. Um para ser combatido com a palavra e o outro com a força.»

Ferreira Fernandes, no DN.
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