Era «o Mercado» que comandava o mundo e, mal ou bem, concordando ou combatendo, sabíamos que a regra do jogo era a sacrossanta lei da oferta e da procura.
A realidade foi mudando subtilmente e passou-nos do singular para o plural: são agora «os Mercados» que tomam conta de nós, que nos governam, são eles que temos de cortejar, convencer, sossegar, é por eles que se imolam vítimas, a eles que se levam oferendas. Com agravo e, aparentemente, sem apelo. Estranhos monstros, sem rosto e inimputáveis.
Não estaremos a bater mesmo no fundo?
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5 comments:
Não são os mercados que tomam conta de nós. É quem, não resistindo à ganância de viver acima das suas possibilidades, lhes pede dinheiro emprestado.
E não é verdade que os tenhamos que cortejar, convencer ou sossegar. Só quem lhes quer pedir ainda mais dinheiro emprestado.
Estamos a bater no fundo, mas não é por causa deles. É por nossa causa. Se não fossem eles, quem é que nos emprestava o dinheiro que queremos gastar sem ganhar?
Desacordo, quando se fala da relação dos governos com mercados externos que determinam níveis de crise, juros, pra<os, etc.
Todas as nossas dívidas em vigor têm os juros e prazos fixados aquando da celebração de cada uma.
São as novas dívidas que estão a ser negociadas a taxas de juro altíssimas.
Se não estivessemos a pedir mais dinheiro emprestado todas as semanas, podíamos mandar os mercados àquela parte...
Não são os mercados, mas sim quem continua a pedir dinheiro emprestado em nosso nome, que nos entalou e entala.
Isto pode parecer pequena diferença, mas identificar os responsáveis em vez de atirar as responsabilidades para uma abstracção inatingível pode ser uma boa forma de perceber aonde reside a solução, não?
Estamos a aproximar-nos. Mas todo o sistema permite / favorece isso tudo, com a cumplicidade dos burocratas de Bruxelas, no que se refere à Europa.
Não é certamenta da Europa dos Barrosos das reformas douradas que podemos esperar a solução dos nossos problemas.
A Europa, talvez por misturar o pior da esquerda (a ideia que o Estado, nacional ou trans-nacional, deve intervir na economia) com o pior da direita (a ideia de que o dinheiro mal gasto nessa intervenção nos pode vir parar aos bolsos) acha virtuoso um déficit do Estado de 3% que, em 30 anos, acumula uma dívida pública do tamanho do PIB.
O problema da dívida é nosso, e não perdemos nada em olhar para ele como se fosse só nosso. E há grandes tentações para continuar a correr para o precipício, gastando como se não fosse para pagar. O "Manifesto dos economistas aterrorizados" aí está para no-lo lembrar.
Quanto aos mercados, se não existissem, estaríamos a pagar juros mais altos pelas mesmas dívidas, porque não haveria leilões para escolher o credor mais barato para cada empréstimo. E os políticos de esquerda não teriam um papão para descartar as suas culpas nesta crise...
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