7.11.10

Do parolismo



Para quê fazer exercícios de redacção quando encontro já escrito o que pensei várias vezes durante estes dois dias:

«O que é doloroso, a mediocridade dolorosa de ver, aloja-se em dois pontos: por um lado a ideia de que Portugal é a portagem para a entrada na África “lusófona”, a ideia transportada para a tv da perenidade do olhar colonial – e como tal para os países africanos onde se recebem as estações portuguesas, com os efeitos óbvios na opinião popular e nos agentes políticos. O parolismo destas elaborações é total. E não há meio disto terminar, nem mesmo quando a realidade as mostra totalmente anacrónicas. Sim, as negociações de Cahora Bassa mostraram essa triangulação. Sim, diz-se que as andanças da banca portuguesa em Angola também comportam essa tríade (no sentido literal e no sentido metafórico). Mas é um absurdo insistir nessa tecla do “facilitador” Portugal. Pois a China não precisa de “facilitadores”; pois o tempo do Portugal “protector”/”potentado” passou (só alguns comentadores e meia dúzia de intelectuais socialistas é que ainda não se descolonizaram). E, finalmente, e o mais importante, entender Portugal como facilitador das relações entre China e os países africanos – para além de menorizar o país – é um contrasenso político. A articulação portuguesa, e a europeia, com os países africanos passa pela condicionalidade política. Exactamente o contrário da prática chinesa. Este discurso “facilitador” (que é do comentador Rogeiro mas também dos políticos portugueses) é uma radical contradição. E avançam-no sem qualquer hesitação. Não é apenas a falta de princípios mas a elaboração (e em discursos oficiais, como o de Sócrates há uns anos e como o do PR agora, para além dos de agentes menores) de uma total ausência de norte. Um desnorteio político. Uma incompetência.»
jpt, no ma-shamba.
...

12 comments:

septuagenário disse...

temos uma falta de cultura africana e internacional, que nem alberto joão madeirense nós entendemos, quanto mais chineses e africanos.

jpt disse...

Sabe?, JL, não fosse essa sua "deficiência" esquerdista (aka esquerdalha) e ainda nos entenderíamos.

Ou seja - tivesse eu uma igreja - ainda me esforçaria a convencê-la a dar-nos o dízimo. (Mas cheira-me que me sacaria o meu ...)

Joana Lopes disse...

Um tanto sibilino, jpt.:-)
Nenhum de nós tem igreja, é isso.

jpt disse...

e ficamos sem saber o que fazer com o dízimo

Joana Lopes disse...

Vai ficando debaixo do colchão...

Eco da Província disse...

Ao contrário do que aqui foi dito, das poucas coisas que ainda fazem sentido no nosso Portugal político é termos noção do papel que ainda temos (e que podemos vir a ter) em África e, de uma outra forma, no Brasil. E isso não é muito difícil de perceber, basta conhecer a realidade dos países em questão.
No caso chinês em Angola isso é claro como água.

Joana Lopes disse...

A pessoa que escreveu o texto que transcrevo vive em Moçambique...

Eco da Província disse...

Não me diga que é português...

Joana Lopes disse...

Você é chinês, Eco da Província?

Eco da Província disse...

Não...O que percebi do post foi que Portugal não é uma ponte para África nem para os países lusófonos...Certo?
Depois perguntei se a pessoa que escreveu o texto era um português ou (pergunto agora) se é moçambicano?

Joana Lopes disse...

Eu percebi mas não respondo. Ou melhor, respondo no que me diz respeito: sou portuguesa, nascida em Moçambique.

Eco da Província disse...

Muito bem. Mas não era aí que eu queria chegar. Gostaria de saber se a pessoa que escreveu o texto é um português que, por milagre, estará a trabalhar em Moçambique.

Quanto aos chineses devem ser parvos para estarem a gastar uns milhões em Portugal para entrar em Angola...