Para quê fazer exercícios de redacção quando encontro já escrito o que pensei várias vezes durante estes dois dias:
«O que é doloroso, a mediocridade dolorosa de ver, aloja-se em dois pontos: por um lado a ideia de que Portugal é a portagem para a entrada na África “lusófona”, a ideia transportada para a tv da perenidade do olhar colonial – e como tal para os países africanos onde se recebem as estações portuguesas, com os efeitos óbvios na opinião popular e nos agentes políticos. O parolismo destas elaborações é total. E não há meio disto terminar, nem mesmo quando a realidade as mostra totalmente anacrónicas. Sim, as negociações de Cahora Bassa mostraram essa triangulação. Sim, diz-se que as andanças da banca portuguesa em Angola também comportam essa tríade (no sentido literal e no sentido metafórico). Mas é um absurdo insistir nessa tecla do “facilitador” Portugal. Pois a China não precisa de “facilitadores”; pois o tempo do Portugal “protector”/”potentado” passou (só alguns comentadores e meia dúzia de intelectuais socialistas é que ainda não se descolonizaram). E, finalmente, e o mais importante, entender Portugal como facilitador das relações entre China e os países africanos – para além de menorizar o país – é um contrasenso político. A articulação portuguesa, e a europeia, com os países africanos passa pela condicionalidade política. Exactamente o contrário da prática chinesa. Este discurso “facilitador” (que é do comentador Rogeiro mas também dos políticos portugueses) é uma radical contradição. E avançam-no sem qualquer hesitação. Não é apenas a falta de princípios mas a elaboração (e em discursos oficiais, como o de Sócrates há uns anos e como o do PR agora, para além dos de agentes menores) de uma total ausência de norte. Um desnorteio político. Uma incompetência.»
jpt, no ma-shamba.
...
12 comments:
temos uma falta de cultura africana e internacional, que nem alberto joão madeirense nós entendemos, quanto mais chineses e africanos.
Sabe?, JL, não fosse essa sua "deficiência" esquerdista (aka esquerdalha) e ainda nos entenderíamos.
Ou seja - tivesse eu uma igreja - ainda me esforçaria a convencê-la a dar-nos o dízimo. (Mas cheira-me que me sacaria o meu ...)
Um tanto sibilino, jpt.:-)
Nenhum de nós tem igreja, é isso.
e ficamos sem saber o que fazer com o dízimo
Vai ficando debaixo do colchão...
Ao contrário do que aqui foi dito, das poucas coisas que ainda fazem sentido no nosso Portugal político é termos noção do papel que ainda temos (e que podemos vir a ter) em África e, de uma outra forma, no Brasil. E isso não é muito difícil de perceber, basta conhecer a realidade dos países em questão.
No caso chinês em Angola isso é claro como água.
A pessoa que escreveu o texto que transcrevo vive em Moçambique...
Não me diga que é português...
Você é chinês, Eco da Província?
Não...O que percebi do post foi que Portugal não é uma ponte para África nem para os países lusófonos...Certo?
Depois perguntei se a pessoa que escreveu o texto era um português ou (pergunto agora) se é moçambicano?
Eu percebi mas não respondo. Ou melhor, respondo no que me diz respeito: sou portuguesa, nascida em Moçambique.
Muito bem. Mas não era aí que eu queria chegar. Gostaria de saber se a pessoa que escreveu o texto é um português que, por milagre, estará a trabalhar em Moçambique.
Quanto aos chineses devem ser parvos para estarem a gastar uns milhões em Portugal para entrar em Angola...
Enviar um comentário