Texto de Diana Andringa, publicado em 18/1/2010 nos Caminhos da Memória.
Chegado ao poder em 5 de Julho de 1932, Salazar cuidou de preparar a base constitucional e legislativa do Estado Novo. A Constituição de 1933 incluía, no artigo 39º, a proibição da greve e do lock-out – já constante do Decreto-Lei nº 13.138 de 15 de Fevereiro de 1927 e reafirmada no artigo 9º do Estatuto do Trabalho Nacional (Decreto-Lei nº 23.048 de 23 de Setembro de 1933). O Decreto-Lei nº 23.050 de 23 de Setembro de 33 vai por sua vez instituir o princípio do Sindicato único.
E é contra este edifício legislativo, contra a “fascização” dos sindicatos e a ilegalização das organizações existentes, que se prepara, para o dia 18 de Janeiro do ano seguinte (1934), uma “greve geral revolucionária”.
Na véspera, no entanto, a PVDE prende alguns dos principais dirigentes sindicalistas e outros activistas ligados ao movimento. Ainda assim, em Lisboa, na noite de 17, explode uma bomba no Poço do Bispo e o caminho de ferro é cortado em Xabregas, enquanto que, em Coimbra, explodem duas bombas na central eléctrica. Há ainda movimentações em diversos outros pontos do país, como Leiria, Barreiro, Almada, Sines e Silves, sendo a mais forte na Marinha Grande, onde grupos de operários ocupam o posto da GNR e os edifícios da Câmara Municipal e dos CTT.
A repressão não se faz esperar. Diversos participantes do 18 de Janeiros estão entre os prisioneiros que inaugurarão, dois anos depois, a colónia penal do Tarrafal, onde vêm a morrer Pedro Matos Filipe, Augusto Costa, Arnaldo Simões Januário, Casimiro Ferreira, Ernesto José Ribeiro, Joaquim Montes, Mário Castelhano, Manuel Augusto da Costa e António Guerra.
Aproveitamos para divulgar hoje algumas páginas do Diário de Lisboa, que relatam os acontecimentos e as reacções oficiais à tentativa insurreccional ocorrida há 75 anos.
(Documentos da Fundação Mário Soares)
A Nota Oficiosa emitida pelo Ministério do Interior é bem reveladora da gravidade dos factos:
«Pelos relatos dos jornais viu o país os sucessos das últimas vinte e quatro horas. Por eles poderá facilmente supor os que haveria, se o governo, conhecendo bem os preparativos da acção, não tivesse tomado as medidas requeridas pelas circunstâncias. Cessação do trabalho nas fábricas, paralisação de serviços de interesse colectivo e vitais para a população, atentados pessoais e manifestações de terror estavam previstos por parte de elementos que supunham poder arrastar para a projectada revolução social as massas trabalhadoras.
A apreensão de armamento, a oportuna prisão dos principais dirigentes e instigadores, a apertada vigilância exercida por todos os elementos e forças de segurança pública, do Exército e da Armada, a consciência cívica do País e o magnífico espírito de ordem dos trabalhadores em geral fizeram fracassar por toda a parte os planos extremistas em condições de não ser já possível a sua repetição. Não foi perturbada a tranquilidade pública nem a vida normal da população. Seguem-se agora naturalmente as sanções.
(Continuação nesta página do Diário de Lisboa.)
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3 comments:
Diana Andinga ou Andringa?
há-de haver outros parecidos
Andringa, claro, obrigada.
sinceramente nunca tivemos levantamentos nem massacres de vulto como no resto da europa
para a projectada revolução social as massas trabalhadoras.
umas dezenas de milhares de operários
num país católico e maioritariamente agrícola
numa guarda republicana recrutada maioritariamente entre as gentes dos campos que odiavam os das cidades
que trabalhavam 10 ou 12 horas nos campos do norte ...
é subverter a história
e uma bomba para descarrilar comboios
quando as forças repressivas se deslocavam a cavalo
e os outros atentados à bomba eram pueris
não tinham objectivos eram os ex-carbonários e anarkas dos anos 20 para quem fazer barulho era fazer a revolução
mesmo os republicanos estavam fartos das reviravoltas e da penúria dos anos 20
em 34 o regime era novo de 8 anos e dava estabilidade
os revolucionários eram uns centos que talvez tivessem uns milhares de potenciais seguidores para o reviralho
mas se nem em 1975, 40 ou 50mil homens com algumas centenas deles armados
conseguiram impedir as multidões de esventrarem as sedes dos partidos de esquerda
que futuro teria esse 18 de Janeiro
quem o queria
Portugal de 1934 não era o Portugal de 54
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