5.4.11

Não votar no «menos mau»


É isso mesmo. Como explica Pedro Tadeu, hoje, no DN.

«Porque vota o povo, que protesta, que se manifesta, que se indigna, nos mesmos políticos e nas mesmas políticas contra as quais se insurge? Porque é que os resultados eleitorais contradizem, sempre, o aparente sentimento popular? Porque é que o poder executivo é sempre entregue aos protagonistas circunstanciais do chamado "bloco central" ou sedimentados na "coligação de interesses" que gravita e vive do exercício clientelar do poder? Porque, só para dar um exemplo concreto, em classes profissionais como a dos professores, onde será difícil, depois da revolta e do aborto do processo de avaliação, encontrar um docente que diga bem do PS ou do PSD, muitos votarão, no próximo dia 5 de Junho, num desses dois partidos?

Aos eleitores o sistema eleitoral, na prática (não na letra), só pede isto: a opção entre os partidos que se apresentam a votos para um ciclo de quatro anos de governação. Face a esse pedido, o que pode a maioria das pessoas perspectivar? Esperar eleger alguém, "limpo" dos "pecados" das anteriores governações, perene há 25 anos, e que radicalmente, em quatro anos, liquide a forma institucionalizada de gerir impostos e despesas, de distribuir e investir a riqueza do Estado e, ao mesmo tempo, saiba construir um novo sistema justo e claro? O receio de que uma acção radical desse tipo traga mais prejuízo que benefício é obviamente justificável.

Resta a esses eleitores receosos optar pelo político ou grupo de políticos "menos mau". Eles sabem que em 1400 dias os eleitos com o seu voto não irão mudar o que é preciso mudar mas, esperam, alguns dos vícios conjunturais serão corrigidos.

Essa esperança, tão curta na ambição quanto é curta uma legislatura, será absolutamente sensata, nada tem de estúpida, mas criou o vórtice que nos afundou: essas políticas, erradas, foram no essencial, sucessivamente sem cessar, aplicadas com a legitimidade do voto popular. Ao fim de cada ciclo eleitoral tornou-se sempre mais difícil reverter a situação e, perversamente, a posição dos que nos conduziram ao abismo saiu reforçada. E foi assim que chegámos, a votar de quatro em quatro anos, à crise de hoje, à crise filha do voto no "menos mau".

Quer isto dizer que as eleições são más? Claro que não. O que isto quer dizer é, em primeira linha, que quem tem propostas alternativas para apresentar ao eleitorado tem de perceber este mecanismo e, se quiser ganhar eleições, demonstrar ao povo que, agora, no estado a que isto chegou, sensato mesmo é deixar de votar "no menos mau" e passar a votar no que realmente se acha bom.»
(O realce é meu.)
...

0 comments: