3.4.11

União Nacional?


O jornal «i» tem hoje um título que causa arrepios a quem tenha vivido umas décadas nesta ponta da Europa, antes de Abril de 74: «Cavaco Silva apela à união nacional». Não é bem ouvir falar do «dia da raça», mas quase.

É que a União Nacional (incluindo a sua sucessora Acção Nacional Popular) durou quarenta anos e garantiu «o monopólio da representação parlamentar, elegendo sempre a totalidade dos deputados». Não dá muito jeito ouvir referi-la em tempo de pré-campanha eleitoral...

Mas adiante porque o clima não está para subtilezas e o que importa é também o conteúdo da notícia.

Diz-nos Cavaco que «este é um tempo em que nós precisamos de olhar o futuro com coesão de forma unida, afastar divisões, afastar querelas menores, para em conjunto conseguirmos ultrapassar os graves problemas que temos à nossa frente». Evoca mesmo a vitória em Aljubarrota para mostrar «como nós somos fortes quando estamos unidos». Só não diz quem representa no momento actual o papel dos espanhóis, nem que divisões devem ser evitadas.

Se fossem levados a sério, estes apelos dramáticos à «união», que o PR repete quase todos os dias mas que outros não evitam, teriam o efeito de esvaziar o debate eleitoral do indispensável pluralismo de opiniões e divergência nas lutas, indispensáveis até para não nos afundarmos definitivamente na famigerada «crise». O objectivo é não só conseguir acertar o passo dos «grandes», sem perturbações de maior, como também afastar para canto as vozes de certas minorias.

Para o caso de não se ter dado por isso, o que nos é pedido, de certo modo, é que suspendamos mesmo a tal democracia - e não apenas por seis meses.
...

6 comments:

ruialme disse...

Não esquecer o apelo a q «os jovens deste tempo se empenhem em missões e causas essenciais ao futuro do País com a mesma coragem, o mesmo desprendimento e a mesma determinação com que os jovens de há 50 anos assumiram a sua participação na guerra do Ultramar.»
http://www.presidencia.pt/?idc=22&idi=51708

O rural disse...

Não está nas mãos de qualquer Cavaco ou Sócrates ou qualquer vendedor de banha da cobra que surgirá qualquer União portuguesa.

Fernando Torres disse...

Tem razão! Ainda há pouco escrevinhei um post que apela a fazer frente ao "fenómeno união nacional reconstruída". Quem me acompanha?

Anónimo disse...

levam tudo à letra. Será que o Cavaquinho sabe o que é União Nacional? Aliás tudo o que ele diz não é para levar à letra, não vale a pena.

Joana Lopes disse...

Claro que não vai haver uma UN, mas estes apelos são lamentáveis.
E é óbvio que cavaco sabe o que foi a UE e nela terá votado até ao 25 de Abril...

Anónimo disse...

Que o homem tenha a ideia no seu substracto cultural não me admira.

Mas, no rigor das coisas, seguindo o link, parece ter de se concluir que quem falou em «união nacional» foi a sempre excelente LUSA.

Mesmo o termo «união dos portugueses» não está com comas.

Podia ficar calado mas acho melhor não dar pretextos para que os cavaquistas venham dizer que à esquerda se torcem as coisas.

Bom domingo para si, Joana.