@Paulete Matos
Cavaco Silva inaugurou ontem uma complexo residencial para idosos na Misericórdia de Torres Vedras (nota importante: «sessenta e oito anos depois de o ex-Presidente Carmona ter visitado o local»…) e aproveitou a ocasião para fazer duas declarações, qual delas a mais significativa.
Interrogado sobre a necessidade do imposto extraordinário decretado pelo Governo, afirmou, submisso, que «o senhor ministro das Finanças já teve ocasião de explicar a razão pela qual o Governo fez essa proposta». E preferiu manifestar-se preocupado com quem «não tem rendimentos suficientes para ser abrangido pelo imposto extra».
Os atingidos agradecem a preocupação, certamente penhorados. Para os outros, fica a mensagem subliminar: «não se queixem», «não sejam mesquinhos» (como muito bem interpreta o Nuno Serra).
Mas houve mais e, a meu ver, «melhor». A propósito do papel das Misericórdias e de outras instituições similares, Cavaco veio dizer que se impõe «repensar o conceito de serviço público às áreas da saúde, às áreas da protecção à infância e à área da solidariedade social, colocando o acento tónico, de uma forma clara, na satisfação das necessidades dos cidadãos e não na concepção ou ponto de vista obsoleto e ideológico da exclusividade da produção pública».
Esbatendo, ou pretendendo mesmo eliminar, as fronteiras entre o público e aquilo que não o é nem nunca foi (por mais meritória que seja a actividade que está em causa), Cavaco Silva abre a porta, sem vergonha e de forma escancarada, a tudo o que o SEU Governo se propõe fazer nos próximos tempos. E não é certamente por acaso que aparecem os termos «obsoleto» e «ideológico». Quanto ao último, tem razão porque é de ideologia que se trata. E é mais do que tempo para se desmascarar o tal mito de Cavaco «o social-democrata»!
Preparemo-nos, pois, porque a procissão ainda nem sequer chegou ao adro…
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14 comments:
é tudo tão salazarento que até assusta
Cada vez mais, Ana Cristina!
A culpa não é do Sócrates?
E do governo do PS que era de direita e igualzinho ao PSD?
Quando Cavaco atacava sob todo e qualquer pretexto o governo anterior, onde estavam estes que se queixam (com razão, sim) agora?
Porque calculisticamente ignoraram os ataques da direita, apoiando-os com o seu silencio? E isso nos melhores casos, que em muitos só faltou baterem palmas de júbilo.
Sim, eu sei, um passo atrás, dois em frente. Mas o que tenho assistido é um passo em frente, quatro atrás.
Eu pensei q isto ía ser mau,tanto q após 40 anos de votação no PCP e vendo todos unidos a deitar abaixo o Sócrates e a injurià-lo, resolvi q o partido mais bem colocado para derrotar o PSD era, infelizmemte,o PS, e votei.Confesso q mesmo assim nunca pensei q chegássemos tão depressa à hipocrisia e desvergonha deste neoliberalismo.E não é q mais de 90% se acham católicos (de missa do 1/2 dia claro)? Alinho em todas as acções q eu entenda q combatem esta desumanidade.Vou dar o nome embora possa sofrer consequencias.
Teresa, não percebo a quem vais dar o nome... nem para quê.
Quanto ao Anónimo: a culpa não é só mas é certamente, e muito, de Sócrates e do seu governo - digo-o sem hesitação. Vergou o PS a Bruxelas e à direita, como ninguém o tinha feito antes.
Joana Lopes, com todo o respeito que lhe tenho, e é muito, o seu argumento parece-me de cariz igual ao do violador que diz que "ela também teve culpa vestida assim a provocar".
Portanto, se Sócrates se encostou à direita, embora deitá-lo abaixo para a direita a sério governar, certo?
O PSD e o CDS têm uma dívida de gratidão para o BE e o PCP, mas não acredito que a paguem.
Lamento, mas não continuo diálogos deste tipo com quem se esconde atrás do anonimato, mesmo que diga que me tem muito respeito...
Duas faces da mesma moeda... o bipartido PS/PSD, aprenderam bem com os americanos desde que estes despoletaram o 25 de Abril para poder entrar em Angola, Cabinda, etc.
É perguntar ao Kissinger, com que portugueses tratou do assunto que ele dirá logo:- Mário Soares, Cavaco e Ramalho Eanes entre outros. Agora perguntem-se a troco de quê fizeram isso ao seu País e seu povo?! Tá fácil, não?!
pois é, com todo o respeito pelo anónimo, quando as pessoas se baixam muito há um dia que ficam de cuecas à mostra...
É isso mesmo, Ana Cristina.
Para além de que ainda não estou mentalizada para lidar com socráticos na clandestinidade.
Oh minhas senhoras, chamo-me João Luis Domingos, tenho 57 anos, moro em Lisboa, querem saber mais? façam favor de perguntar, posso enviar o numero de telefone, a morada, o certificado de habilitações e o registo criminal, se até a pide o tinha não vejo que sejam menos, eu também tenho memória.
E se sou "socrático na clandestinidade" peço perdão a Vossas Excelências se se sentem ofendidas por um "socrático" dizer o que pensa.
Agora essa do não falar com anónimos é, perdoem-me, a confissão de que estão mais numa de discutir pessoas que ideias, e apreciam a insinuação rasteira, pois pois, o "socrático"...
Joana Lopes, Ana Cristina Leonardo, iamos no Sócrates se ter encostado à direita, a solução era entregar o poder à direita que era tudo a mesma coisa mas afinal já não é. É essa a minha "socrática" pergunta, o BE e o PCP fizeram bem em ajudar a derrubar Sócrates ou não?
João Luís Domingues, O PCP e O BE mantiveram-se na linha dos princípios que defendem e, nesse particular, espero que assim continuem. Foi o governo de Sócrates que se afastou dos do PS - e de que maneira - e que se autosuicidou.
Anónimo/ João Luís Domingos, deixe-me dizer-lhe o que me vai na alma já faz algum tempo (é um post antigo la do meu tasco)
"O meu coração bate à esquerda desde pequenina. Resultado também, com certeza, de ter nascido numa terra de marítimos que, no dizer de Raul Brandão, "(…) são generosos, imprevidentes e comunistas".
É por isso que não perdoo a Sócrates ter subvertido todas as boas ideias que, nascidas na esquerda, se viram transformadas em operações de marketing, esvaziadas de sentido e convertidas a mero negócio.
Igualdade na educação, novas oportunidades, energias alternativas, democratização tecnológica, parcerias público-privadas, avaliação de desempenhos… Acrescente-se-lhe o rol de negociatas, o trabalhar para as estatísticas, o roubo descarado (em alguns casos), o fanatismo, a intolerância, a ignorância, o modernismo para pacóvio ver (o que foi o acordo ortográfico se não uma forma de vender dicionários?), a demagogia a roçar o delírio, a promoção e enriquecimento ilícito de gente inclassificável, parasitas de um Estado que se deixa à beira da bancarrota mas com os bolsos (de alguns) bem recheados… é tudo isso que eu não perdoo a Sócrates.
E, sobretudo, não lhe perdoo que, com tudo isso, nos entregue de bandeja à direita.
Vá-se lixar senhor engenheiro!"
Mantenho tudo.
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