Aqui me confesso e me penitencio: este é o primeiro livro de J. Rentes de Carvalho que leio. Outros esperam há muito por melhores dias (ou melhores noites), naquelas pilhas de equilíbrio instável e tempo de vida indefinido, que já começam em pleno soalho. Mas este, talvez pelo título delicioso e irresistível, passou directamente do saco da livraria para o primeiro serão disponível.
Em Os Lindos Braços da Júlia da Farmácia, encontramos um conjunto de trinta pequenas histórias sobre os mais variados temas, que se lêem muito facilmente e com um sorriso permanente.
Para aguçar o apetite, o início de uma dessas curtas narrativas – «O Joalheiro» (p.116-153) –, uma das minhas preferidas:
«A fotografia mostra um grupo de rapazes sorridentes. Com a caligrafia esmerada dos meus dezassete anos escrevi no verso: Lisboa, 11 de Março de 1947.
Ano cheio de acontecimentos e novidades, descobertas, primeiras impressões, sonhos que nunca se realizaram. Vir a ser campeão de salto em altura, por exemplo. Ou milionário. Ter um veleiro de quatro mastros, um harém, dois cães e um rádio portátil Zenith. Viver na Sibéria como Miguel Michel Strogoff. Tocar guitarra. Quebrar lentamente os ossos do professor de Matemática.»
Quem não teve alguns destes desejos aos 17 anos que levante o braço.
José Rentes de Carvalho, Os Lindos Braços da Júlia da Farmácia, Quetzal, 360 p.
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2 comments:
Boa noite!
Sou um visitante muito regular do seu blogue e aproveito para a saudar pela qualidade dos seus textos.
Sobre o tema deste post, mais vale tarde que nunca... Eu descobri-o com "Ernestina" e depois passei a "A Coca". Não perca! Vou então seguir a sua recomendação e passar à "Júlia da Farmácia".
E já registei o "Tempo contado" nos Favoritos.
Cordiais saudações.
Fernando Oliveira
Muito obrigada, caro Fernando Oliveira. Vou ler os outros livros de JRC, certamente.
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