Em Le Monde Diplomatique (edição portuguesa)de Dezembro, mais um importante texto de Sandra Monteiro: «Crise: lugares de certezas e incertezas».
«À medida que a crise se agrava, surgem no encolhido espaço da dúvida cada vez mais certezas, mais respostas já dadas. Porque as posições em confronto, as diferentes visões de sociedade, se definem em torno de antagonismos que não são novos na história, que já tiveram os seus argumentários construídos, debatidos e até escrutinados pelo confronto com o real. Há uma certa sensação de reedição, fora do tempo, de debates que na Europa tantos consideraram estar resolvidos, por extensa que fosse (e era) a sua margem de melhoria. (…)
Mas cresce também, noutra morada, o espaço das incertezas. Estas, expulsas do lugar onde são úteis e criativas − no exercício da crítica e da transformação −, alojam-se num quotidiano em que são fonte de sofrimento, de medo, de desespero. No quotidiano imposto pela crise, certezas e incertezas passam a habitar locais trocados, deslocam-se para onde não deviam estar e tornam-se ambas corrosivas: as certezas facilitam posições defensivas, em vez de estimularem a audácia da alternativa; as incertezas paralisam e degradam as condições mínimas de estabilidade que facilitariam a disponibilidade da maioria para se empenhar em soluções colectivas − não apenas privadas, familiares − para os problemas de todos os dias. (…)
Nas ocasiões em que os neoliberais falam com clareza, como fez o primeiro-ministro Pedro Passos Coelho ao referir-se aos países sob intervenção dos planos de ajustamento estrutural como «aqueles que foram indisciplinados» e a Angela Merkel como alguém com quem «em vez de colagem há coincidência de posições» (Público, 4 de Dezembro de 2011), o que importa sublinhar é um posicionamento político-ideológico que é contrário aos interesses das periferias europeias no quadro do saque em curso. Porque só quando as escolhas políticas são claras podemos ter democracias substantivas. Já o sabemos mas, nestes tempos de certezas e incertezas trocadas, convém repeti-lo: sem política, as escolhas são cegas; sem instrumentos para as levar à prática, são vazias. E o nosso lugar não é entre a cegueira e o vazio.»
Na íntegra AQUI.
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2 comments:
Importante neste jornal, também, o artigo bastante pragmático de João Ferreira do Amaral.
"...sem política, as escolhas são cegas"...
Acho que aconteceu algo à Sandra Monteiro!!!
A política não é mais que uma ferramenta utilizada por quem efectivamente faz as escolhas para conseguir criar uma Ilusão de Escolhas junto dos povos... E esta Ilusão começa com o 'Voto'...
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