"NÃO BASTA SÊ-LO, É PRECISO PARECÊ-LO
A decisão de acabar com o programa da Antena 1 "Este Tempo" suscitou generalizadas acusações de censura contra a RTP. O director geral da RTP rebateu estas acusações, alegando que o fim do programa já estava previsto e não constitui, portanto, uma retaliação contra as críticas que aí emitiu o colunista Pedro Rosa Mendes (PRM) sobre o programa "Reencontro" de Fátima Campos Ferreira. PRM retorquiu que nas últimas semanas estava em discussão a alteração do formato jurídico do seu contrato, mas nunca se anunciara a intenção de acabar com o programa. E afirma que a decisão de acabar com o mesmo lhe foi comunicada como reação à sua crónica sobre "Reencontro".
No meio desta polémica, um primeiro ponto pode estabelecer-se como coisa certa: a RTP fez uma triste figura e alimentou, no mínimo, uma suspeição de censura que mesmo o desmentido do director geral não consegue dissipar inteiramente. Supondo que fosse falso tudo o que diz PRM sobre os preparativos para uma renovação dos contratos de "Este Tempo", e que o fim do programa estivesse efectivamente previsto, pergunta-se: e ao dar a machadada final no programa não se percebeu como essa decisão, neste momento e neste contexto, só podia ser vista como censória? E não se percebeu como a acusação de censura lesava a imagem da rádio pública? E não se percebeu como esses estragos na imagem da RDP se tornavam duplamente graves na sequência dos estragos que o programa "Reencontro" tinha deixado no prestígio da televisão pública?
E este é o segundo ponto que pode considerar-se estabelecido para além de qualquer dúvida razoável: ao escamotear a realidade angolana, o programa "Reencontro" deu, afinal, execução e cumprimento às recomendações de um relatório que a abominação pública parecia ter relegado, merecidamente, para o caixote do lixo da História - o relatório Duque. Nesse documento expendia-se a ideia peregrina de que a RTP devia tornar-se uma agência de comunicação do MNE. O programa "Reencontro" veio mostrar que o defunto relatório continua, por trás dos bastidores, bem mais vivo, perigoso e nefasto do que o clamor de repúdio da opinião pública parecia permitir.
Admitindo que sejam certas as explicações dadas pelo director geral da RTP, fica ainda uma outra questão por esclarecer: em que concepção de futuro para a rádio e a televisão públicas se inscreve a decisão de acabar com o programa "Este Tempo"? Damos por suposto que não se tomam nesta casa decisões avulsas e que cada passo pontual corresponde a uma estratégia de maior fôlego - ou seria adiado até existir essa estratégia, com a vantagem adicional de ser dado em momento mais oportuno e sem o estigma desta aparência atentatória da liberdade de expressão. Ora, se existe uma estratégia já delineada, então está-se a proceder a uma reestruturação clandestina, evitando chamá-la pelo seu nome e evitando pôr as cartas na mesa. Talvez por isso, esta CT continua sem ser ouvida sobre o dito processo de reestruturação, como a lei determina.
Lisboa, 25 de Janeiro 2012
Comissão de Trabalhadores da RTP
(Via Joaquim Paulo Nogueira no Facebook)
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1 comments:
O programa da RPP1 de facto foi um acto demasiado grave, porque o regime Angolano merece severos reparos,porém muitos portugueses, acima de uma centena de milhar participam, alimentam e ganham com a situação politica vigente, e pouco se preocupam com os valores,logo será RTP a guardiã dos valores humanos? Não é de certeza, mas tinha de fazer tudo como fez, talvez não, não foi inteligente, fui subserviente e isso é negativo, mas na minha opinião é o estilo daquela senhora.
Quanto ao programa de modo nenhum a antena 1 deveria ter tomado o procedimento que assumiu, e se não concordasse com o teor das criticas, competiria ao seu órgão com responsabilidade manifestar a sua opinião, mas nunca censurar e programa, a não ser que seja calunioso etc. etc., mas tudo isso deveria ser demonstrado, assim, entendo este acto como um de censura, as coincidências raras vezes são acasos.
andrade da silva
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