«Durante séculos, a majestosa cidade de Braga especializou-se na produção de um produto: padres. Basta percorrer as monumentais ruas da cidade para perceber a importância que a religião e a Igreja Católica têm para a região. São edifícios e mais edifícios (muitos deles de grande dimensão) dedicados à produção e formação de sacerdotes. Hoje em dia, a indústria de produção de sacerdotes bracarenses está em declínio”. (…) Porquê? (…) A grande causa do declínio da Igreja Católica em Portugal é simplesmente a falta de competitividade. A indústria de produção de padres perdeu competitividade, pois os custos de produção de novos sacerdotes são demasiado altos e o preço do sacerdócio é extremamente elevado.»
Álvaro Santos Pereira, O Medo do Insucesso Nacional
Citado por António Cândido de Oliveira, professor da Universidade do Minho, em artigo publicado hoje no Público (sem link). Vale a pena ler:
A crise de produção de padres em Braga e a crise do país
Comecei a ler um livro do actual ministro da Economia porque um colega da Universidade me disse que estava a gostar de ler um deles (o Prof. Álvaro Santos Pereira tem pelo menos três no mercado) e porque encontrei, na Livraria Bertrand-Cruz, o livro com o título O Medo do Insucesso Nacional, com mais de trezentas páginas, editado em 2009, pelo preço “muito competitivo” de pouco mais de três euros.
É um livro que vale a pena ler (é bom apreciar a opinião de quem pensa diferente e expõe bem) mas não esperava encontrar a certa altura esta passagem que diz muito de quem parece viver obcecado pela produtividade, criatividade e competitividade.
Depois de elogiar vivamente uma empresa nacional pelo sucesso que resultou da introdução no mercado do papel higiénico preto, uma ideia inovadora merecedora pelo autor dos maiores elogios (p. 132) apresenta logo na página seguinte, com a entrada “Braga já não produz só padres”, este texto para o qual pedimos a atenção do leitor: “Durante séculos, a majestosa cidade de Braga especializou-se na produção de um produto: padres. Basta percorrer as monumentais ruas da cidade para perceber a importância que a religião e a Igreja Católica têm para a região. São edifícios e mais edifícios (muitos deles de grande dimensão) dedicados à produção e formação de sacerdotes. Hoje em dia, a indústria de produção de sacerdotes bracarenses está em declínio”. E, depois de breves considerações sobre tal facto, pergunta: “Porquê?”. Dá, para além de referir outras secundárias, a seguinte resposta, para ele principal: “A grande causa do declínio da Igreja Católica em Portugal é simplesmente a falta de competitividade. A indústria de produção de padres perdeu competitividade, pois os custos de produção de novos sacerdotes são demasiado altos e o preço do sacerdócio é extremamente elevado.”
E, com muita rapidez, passa para outro assunto deste modo: “Ora, se a indústria de produção de padres bracarenses (e nacional) está em crise, o mesmo não se poderá dizer da indústria da tecnologia da informação”, enaltecendo a transformação de Braga numa “cidade do conhecimento e da inovação tecnológica”, estimulada por uma das “universidades mais dinâmicas do país”.
Basta de mais citações. O desafio já está devidamente lançado à Igreja de Braga. Senhores bispos, senhores cónegos, senhores padres formadores, toca a produzir, competir e inovar! O actual senhor ministro da Economia não diz como, mas isso não é problema dele. É, sim, segundo o ministro, problema dos empresários da indústria eclesiástica de Braga, que devem agir sem perda de tempo, pois o país está em crise e é preciso fazer crescer o PIB, diminuir o desemprego e aumentar as exportações...
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13 comments:
É de génio, Joana. Parece-me ouvir a veneranda música antiga: "Clarins, vibem clarins nos Céus / P'ra alvarizar Portugal". Mas fica-me uma dúvida: "alvarizar" ou, como sugere o Manuel António Pina, "allvarizar"? Questão alvar - ou allvar? Talvez, mas aqui ta deixo, que logo me dirás.
miguel(sp)
Alvar, certamente, Miguel. E ALLvarizar Portugal é o que já estão a fazer...
Alvar, certamente, Miguel. E ALLvarizar Portugal é o que já estão a fazer...
Não acredito, depois dos pastéis: isto!
Vou roubar... e é já!!!!
Olhem, dá dó! Como é possível o homem ter ficado assim? Eu vi coisas escritas por ele, há anos, no blogue, e parecia ter massa encefálica que o tornava funcional...Podiamos discordar, mas via-se que era uma criatura normal, até dava a ideia de ser um português comum,a fazer pela vida...De repente, mal cai no governo, entra em levitação, fica com este ar arrelampado e começa a debitar sobre matérias que se lhe argamassam no cérebro. É muita pressão, compreendo...Ministro + Economia + Empresas + Confederações + troika (ah, e trabalhadores!)... Coitado!
Helena Pato
Mas, Lena, ele escrevu isto num livro publicado em 2009, sem stress nenhum!...
Ai minha mãe! Foram-no buscar por ser lerdinho e não houve um amigo que o agarrasse pelo braço e lhe disse docemente: «Álvaro, esses senhores são maus, vão-te usar, vai mas é estudar para um dia seres alguém...». Continuo a achar que dá dó. Nós é que é pior, a saída deste há de estar para breve e quem vai dar-nos ânimo para encarar o governo? É que a mim, pessoalmente, este ministro trazia-me boa disposição, uma boa gargalhada, e uma certa esperança: a de que o dia da sua saída estava para breve, e sempre era um a menos!
Helena Pato
Mas, cara Helena Pato, foi isso mesmo que ele fez: "estudar para ser alguém" - e foi tão bem sucedido que o país, a "nação fidelíssima", o fez ministro. "Ditosa pátria que tais filhos tem"!
msp
Não me admiro nada que esse senhor tenha escrito isso dos padres. Aliás, ele ficava bem de sotaina, tem cara de anjinho, que o senhor me perdoe se estou a pecar, pelo sim pelo não vou já ali rezar três padres-nossos e 2 avé-marias.
Simão Gamito
Só nos saem cromos. Já 'roubei' com a devida autoria.
Caros Senhores,
Portugal não está a ser alvarizado nem allvarizado. Está mas é a ser alarvizado, e a grande velocidade e ao mais alto nível.
Já tinha visto, Leonor, estas perolas não podem perder-se :-)
O Álvaro é um pândego, o pior é o país nas mãos dele, Joana :)
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