1 - No Sábado, o Expresso online divulgou uma notícia intitulada «As imagens que antecederam a carga policial», que incluía o seguinte vídeo (utilizado aliás como pano de fundo, pelo menos pela SIC, para as declarações que o ministro da Administração Interna fez no mesmo sentido: a carga policial na manifestação de quinta-feira teria sido provocada por agressões físicas à polícia):
2 - Para além de muitos testemunhos de quem presenciou os acontecimentos (ler, por exemplo, Mentir com quantos dentes se tem na boca), um outro vídeo, primeiro difundido no Facebook e entretanto também em vários blogues, vem contrariar o Expresso e as afirmações do ministro: vê-se a «ordem de marcha» dada pelas chefias à polícia, contra manifestantes que apenas gritavam. O primeiro vídeo, truncadíssimo, mostra reacções que se sucederam (e não que antecederam) à carga policial.
3 - Hoje, o mesmo Expresso divulga (finalmente…) que «intervenientes dos confrontos de quinta-feira, no Chiado, garantem que as imagens de violência nas esplanadas foram registadas depois de uma primeira actuação da polícia».
4 - Hoje também, Cavaco Silva mostra-se precupado e diz esperar que «que o inquérito ordenado pelas autoridades esclareça tudo o que aconteceu». Pode esperar sentado – e nós também – já que o próprio porta-voz da polícia veio dizer que serão necessários pelo menos seis meses (ou talvez dezoito…) para serem conhecidos resultados. Ou seja: espera-se que já ninguém se lembre exactamente do que aconteceu em 22 de Março de 2012?
5- Um agente do Corpo de Intervenção que pediu o anonimato terá afirmado que «quando dão a ordem para avançar, é quase impossível travar-nos, já não ouvimos ninguém, deixa de haver uma linha de pensamento, e a questão de serem fotojornalistas ou cidadãos nem se nos coloca naquele momento: a nossa função é limpar o local».
Ler para crer! E, já agora, nada mais certeiro como resposta possível do que esta, deixada pela jornalista Rita Marrafa de Carvalho no seu mural do Facebook:
«Só vou dizer isto uma vez, Sr. Ministro... Já me chamaram Chula, FDP, otária, sanguessuga and so on, and so on. Sempre que o fizeram, eu estava com um microfone da RTP a desempenhar o meu trabalho. Nessas circunstâncias, por mais vontade que tivesse, nunca reagi violenta ou agressivamente. Quer em palavras, quer em actos. Por isso, Sr. Ministro... se os senhores agentes foram "provocados", penso que foram treinados para... não reagir. O objectivo é manter a ordem e não vingar a honra da mãe.»
Ponto de situação: julgo que ficamos cientes do que nos espera em situações próximas futuras e sabemos com o que podemos contar da parte da polícia e do seu ministro.
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6 comments:
Cara Joana Lopes,
Obrigado e parabéns por esta escalpelização dos acontecimentos. Fiz link na minha estrada !
Um abraço
Não aprecio muito o copia/cola mais aí vai, outra vez!
Nós como Cidadãos (eu pessoalmente já me considero Ex-Cidadão mas isto são formas de estar e ver a sociedade em que vivemos!), e supondo que vivemos em "Democracia", abdicamos dos nossos direitos de auto-defesa e auto-protecção e depositamos estes nossos direitos num grupo de outros Cidadãos, ao qual apelidamos de "Polícia"... Se este Grupo de Cidadãos usurpa e abusa e nos ataca, então estamos perante um caso em que se torna legítimo reavermos os nossos direitos de auto-defesa e auto-protecção.
Isto para esclarecer a afirmação "julgo que ficamos cientes do que nos espera em situações próximas futuras e sabemos com o que podemos contar da parte da polícia e do seu ministro" se já sabemos o que nos espera então basta irmos preparados!
Eu li, há 2 dias, num comentário do facebook que já não consigo encontrar, uma mulher que dizia ter falado com uma amiga que fora no dia seguinte à Brasileira e a quem um empregada contara que a polícia tinha lá estado antes a avisar que tirassem a loiça das mesas... Infelizmente perdi o rasto deste testemunho que me pareceu simplesmente sincero e autêntico e que configura e - eventualmente - prova a intenção da polícia em criar um incidente preparado ali estrategicamente; quem poderá confirmar isto?
Também li isso, Leonor. E mais: a polícia impediu que a 1ª manifestação (CGTP e outros) passasse em frente da Brasileira, obrigando-a a um desvio para a direita e a descer depois directamente para o Largo Camões (eu ia nessa). Por que razão não o terá feito com a seguinte, uma hora e tal depois, quando era a dos considerados «perigosos»??? Suspeito, no mínimo, não?
UMA VERGONHA OS NOSSOS (DES-)GOVERNANTES E OS MEIOS QUE USAM (A POLICIA, A MENTIRA DAS INFORMAÇÕES QUE DIVULGAM, A INÉRCIA ASSUMIDA NA AVERIGUAÇÃO E JULGAMENTO DOS RESPONSÁVEIS).
NÃO DEVEMOS FICAR INDIGNADOS SÓ PELA AGRESSÃO DE JORNALISTAS. A AGRESSÃO FOI A CIDADÃOS PORTUGUESES QUE TÊM TODO O DIREITO DE ALI ESTAR, EM VERDADEIRA DEMOCRACIA.
Excelente precisão Joana. Na verdade, tudo isto não terá demorado mais do que 10 minutos, mas é precisamente a ordem em que tudo aconteceu que explica o que aconteceu. O jornalismo a propósito deste episódio tem andado pelas ruas da amargura. Até um relatório "ultra-secreto" do SIS já se invocou.
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