Dos velhos candeeiros de petróleo, alguns eram lindíssimos, outros simplesmente funcionais. Passei com eles algumas das melhores férias da minha vida, não no Portugal profundo nem em tendas de campismo, mas em casas mais ou menos confortáveis situadas em locais tão próximos de Lisboa como Alpertuche (Arrábida) ou Mata (Caparica). E não há cem anos, nem mesmo há cinquenta, mas pouco antes do 25 de Abril. Quem diz candeeiros diz frigoríficos – tudo se organizava em função da falta de electricidade.
Aos serões dessas férias ficará para sempre associado um cheiro inconfundível e conversas sem fim, noite fora, porque nem música havia (o maior dos luxos chegou quando alguém trouxe da América um gira-discos a pilhas…) e ler não era fácil. Mas eram férias e nós éramos jovens e, sobretudo, sabíamos que daí a alguns dias regressaríamos a casas com interruptores.
Vem isto a propósito de uma notícia, lida hoje, sobre o actual sucesso na venda desses objectos que eu julgava relegados para antiquários ou para prateleiras de móveis antigos. Motivo? A assustadora subida no preço da electricidade (que em breve vai ser maior ainda…) e a incapacidade de muitos a suportarem: «Em pleno século XXI, com o agravamento da crise económica, o candeeiro a petróleo regressa em força a muitos lares portugueses, principalmente nas zonas suburbanas do país.»
No centro de Oeiras, o tal concelho de todos os sucessos, o sr. Carlos Silva vende tudo o que encomenda. «Algumas pessoas têm vergonha quando vêm comprar candeeiros a petróleo para iluminação e dizem que é para decoração, mas na semana seguinte cá estão de novo a comprar mais um litro de petróleo.»
Assim estamos. O que teríamos pensado se há dez, cinco, ou mesmo dois anos, nos tivessem mostrado este filme numa espécie de «regresso ao futuro»? Não dá para imaginar.
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2 comments:
É caso para dizer, Grande Cavaco, Grande Relvas, Grande PSD!...
-Por incrível, quem nos condena a isto teve este fim de semana um Congresso em todas as frentes, 24 horas seguidas nos grandes Órgãos de Comunicação Social...Sem descanso e sem petróleo...
É o regresso ao tratamento com ervas e paninhos quentes.
As congestões não são fáceis de tratar.
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