«Um muro diz “SÊ REALISTA, EXIGE O IMPOSSÍVEL!” E esta sentença é a fórmula do mais infinito de uma álgebra política, a nossa, que põe, como todas as álgebras, a meta abstracta para equacionar uma progressão concreta.
Avançamos, corremos de mais às vezes (não podia deixar de ser), corrigimos, deixando para trás um Portugal burocrático e levantando um país em criação contínua e livre. E o nosso rosto social modifica-se, parece outro; os acontecimentos não nos dão descanso e arrastam-nos, criam mais a seguir.
Importante é que neste tropel, arraial, sementeira, alvorada, tenhamos descoberto a força criadora do povo e a sua imaginação corajosa. Descobrimos essas coisas frente a frente e no em cima da hora, nós que por vezes tínhamos do povo uma ideia só histórica e mais ou menos iluminada de entusiasmos ou de cepticismos pequeno-burgueses. Mas agora estamos a aprender o país. A televisão, a imprensa, a rádio e os media partidários mostram-nos o fórum dos trabalhadores, ensinam-nos através da produção. Diariamente, os governantes dão conta aos governados e, diariamente também, dos bairros, das escolas e das casernas saem ideias novas, gente ao vivo. Na mais analfabeta das aldeias há soldados que abrem avenidas.»
Assim via José Cardoso Pires este país (e não só ele…) em Abril de 1975.
(In: E agora, José?, Moraes Editores, pp. 268-269)
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