26.9.12

Em vão



Um belíssimo de texto de Luís Januário, publicado no «i» e agora também no blogue, a propósito da manifestação do passado dia 15. 

Excertos, para abrir o apetite:

«A manifestação de Lisboa acabou na Praça de Espanha, em anti clímax. A incrível ocupação do espaço contrastava com a ausência de meios acústicos, de liderança e organização (como inevitavelmente foi sublinhado). O carácter espontâneo do protesto, a sua maior força, era também a sua debilidade. Faltou a voz que traduzisse aquela raiva em palavras e propostas. O que é em si uma coisa boa, pois, tal como num work in progress, a obra está ainda aberta à multiplicidade de leituras e blindada a tentações caudilhistas.(...)

Quando os bolcheviques tomaram o Palácio de Inverno encontraram uma cave com os melhores vinhos da Europa. O primeiro regime de soldados, operários e camponeses começou numa ressaca de grandes colheitas. Se os manifestantes tivessem tomado a sede do FMI encontrariam um apartamento com mobiliário de escritório e Coca-Cola na geleira. Não é a mesma coisa. E aqui voltamos às imagens fortíssimas. Uns momentos antes das objectivas terem registado o abraço de Adriana ao seráfico guerreiro, uma outra mulher cantava a Portuguesa, à beira das lágrimas. Quando lhe perguntaram porque chorava, ela disse:
– Porque vai ser tudo em vão. Como sempre. (...)

O dispositivo económico é, na fase actual, compatível com alguns enfeites democráticos, desde que o nosso estado de inanição continue a permitir que dancemos a sua valsa.

No passado sábado as multidões desceram a Avenida da República e depois inflectiram perigosamente para a Avenida de Berna, sem saber que a Praça de Espanha era a cloaca do dispositivo económico, o lugar onde toca a sineta surda de dispersar e cada um fica de novo entregue à solidão e ao destino final. A menos que ...»

(Na íntegra.)
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1 comments:

voz a 0 db disse...

Olá Joana...

Mas é lógico... Se a MAIORIA desconhece o SISTEMA que está em vigor, e se não faz a mais pequena ideia do que TÊM DE PERDER, para o alterar... Então podem fazer 1001 manifestações como a de 15Set que serão todas "Em vão"...

Claro que quanto mais TEMPO passa, mais os ESCRAVOS ficarão em piores condições de sobrevivência, já nem se pode falar em "condições de vida", e claro que DESESPERO, aliado ao MEDO, aliado à CONFUSÃO, aliado à IGNORÂNCIA... será igual a...

Complete quem quiser!

Abraço