As moções de censura apresentadas pelo PCP e pelo Bloco serão votadas depois de amanhã e já se sabe que o PS decidiu ontem, em reunião da Comissão Política e por unanimidade, abster-se em relação às duas. Quem se surpreendeu que levante o braço.
Afinal a «convergência» entre PCP e Bloco limitou-se à decisão de apresentar moções agora e de fazer o anúncio no mesmo dia, o que nem me parece mal, mas não é isso que interessa agora.
É óbvio que os textos (que podem ser lidos no site da AR) vão ambos no sentido de críticas severíssimas ao governo, mas são muito diferentes quanto ao estilo e quanto a posicionamento táctico (ou estratégico...) Mesmo antes de os conteúdos estarem oficialmente disponíveis, Daniel de Oliveira definiu, cristalinamente e bem, as ditas diferenças: «Do que se imagina, o texto da moção do PCP deverá ser mais alargado no seu âmbito, não dando grande espaço para desafiar deputados do Partido Socialista a votá-la favoravelmente. O do Bloco deverá ser mais comedido, tentado que os deputados socialistas associem o seu voto a ela.» Não sei se o Bloco aposta agora na grande esperança de ver uma meia dúzia de deputados do PS (sempre os mesmos) furarem a disciplina de voto...
Mas para quê esta obsessão absolutamente irrealista de acreditar que é com o actual PS que se chegará à «grande esquerda», social e politica, que vai governar o país depois de amanhã? E como é que não se entende que, «picando» o PS, o resultado é exactamente o oposto, porque a maioria esmagadora dos militantes socialistas se sentem encostados às cordas e reagem cerrando fileiras? Não há memória ali pela Rua da Palma? Ou trata-se de paciente pesca à linha em minorias descontentes?
Na minha opinião de (perplexa) eleitora do Bloco, isto não vai acabar bem. E, correndo o risco de rivalizar com o camarada Jerónimo no recurso a aforismos, se a ideia é que «água mole em pedra dura, tanto dá até que fura», parece-me antes que «não é com vinagre que se apanham moscas».
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4 comments:
Dou por mim a pensar o mesmo.
Mas não posso deixar de (lhe/me) perguntar: Então como é que a esquerda poderá crescer ao ponto de vir a relevar na formação de futuros governos?
Simon, Não sei, mas acredito que sim, embora não a curto prazo. O Syrisa não ia ganhando na Grécia?
Aliás, neste momento, a questão nem é tanto «tomar o governo», estando a Europa como está, mas preparar o futuro. Esta Europa implodirá, de uma maneira ou de outra.
Joana,
o Syrisa, justamente, não apostou na implosão da Europa, mas na sua redefinição, e fez bandeira da sua recusa à saída da eurozona. Tem tentado "exportar" as tensões e as suas próprias posições, bem mais do que o BE (apesar de uma das poucas coisas em que concordo com o Louçã seja a denúncia que ele tem feito da panaceia da "saída do euro", questão sobre a qual o PCP mantém um silêncio oficial dúbio, mas que permite que seja reclamada na sua ária e por militantes seus, não sem arroubos nacionalistas por vezes arrepiantes).
Derrubar o governo no parlamento com o PS é, sem dúvida, um sonho - que não sei se o BE alimentará. Mas derrubá-lo no parlamento sem o PS é, evidentemente, impossível. Fazê-lo cair na rua - nos locais de trabalho, etc. - e provocar eleições antecipadas talvez seja possível. Mas, depois - e entretanto - ou a segunda hipótese do post do Zé Neves que antologiaste há dias (Que se vayan todos?") abre caminho, ainda que passo a passo, ou… voltamos à vaca fria, enquanto esperamos por coisa pior (a primeira hipótese do Zé Neves).
Não consigo, de momento, ver muito mais.
miguel(sp)
Miguel, eleições antecipadas dariam provavelmente a vitória ao PS sem maioria absoluta. E logo a seguir? Uma coligação com o CDS seria o mais provável, na minha opinião.
Ou seja: não vale a pena fazer cair este governo agora.
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