Estamos tão entusiasmados em debater o significado da fiscalização sucessiva do Orçamento do Estado 2013, pedida pelo Presidente da República ao Tribunal Constitucional, que nos esquecemos de como este é um tempo em que os nomes tendem a ficar deslocados das coisas que deveriam representar. Esquecemo-nos que, com a nossa soberania colocada entre parêntesis, o próprio Tribunal Constitucional desempenha a sua função aplicando uma espécie de taxa de desconto à Lei Fundamental, à conta da "emergência nacional", como já se viu no anterior acórdão dedicado ao Orçamento do Estado 2012. Chamamos "memorando de entendimento" a um ultimato travestido de programa de governo que nos foi imposto pelos credores internacionais (representados pela troika). Trata-se de um ultimato que introduz mudanças radicais no nosso modelo de sociedade, que nunca foram discutidas em eleições nem debatidas seriamente no Parlamento. Chamamos "ajuda internacional" a um empréstimo de 78 mil milhões de euros, provenientes de uma União a que pertencemos, ao lado de países amigos e aliados, mas que pratica uma taxa de juro muito superior e condições muito mais duras do que, por exemplo, as que os EUA aplicaram aos inimigos vencidos na II Guerra Mundial.
Chamamos Governo a um grupo de pessoas eleitas por se terem destacado na luta contra as medidas de austeridade do anterior Governo, mas que agora atuam como delegados do poder efetivo dos credores externos. Um Governo que prefere enfrentar os parceiros sociais e os cidadãos comuns a dialogar prudencialmente com a troika. Este é um tempo em que as coisas mudam rapidamente de forma e lugar. Às vezes ficamos sozinhos. Com palavras vazias.
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