10.1.13

Descartáveis ou sujeitos de mudança?


O texto de Sandra Monteiro em Le Monde Diplomatique (edição portuguesa) de Janeiro de 2013.

«Quantos cidadãos terão começado o ano de 2013 com a impressão de que o governo do seu país, apesar de democraticamente eleito, e a União Europeia, que já alimentou sonhos de modernidade e desenvolvimento, diariamente se empenham em fazê-los sentir que estão a mais? Quantos estarão a sentir que quem decide das suas vidas legisla apesar deles, e não para eles nem com eles? Quantos acreditaram na retórica manipuladora da expiação da «culpa» através do «sacrifício» e descobrem agora que esse poço sem fundo da austeridade sempre traduziu um profundo desrespeito pela sua inteligência, pelo seu trabalho e pela sua humanidade, e perpetuamente se transmuta em mais exploração, menos rendimento disponível, mais desemprego, menos protecção social, mais acumulação de riqueza no topo, menos Estado social, mais privatizações, menos serviços públicos e, claro, mais salvamentos de bancos – agora foi o BANIF, quantos mais virão?

Não fora o simples facto de serem os cidadãos, com o seu trabalho, quem cria essa mesma riqueza que os decisores políticos se comprazem em canalizar, directa ou indirectamente, para engordar fortunas e satisfazer interesses privados, já há muito que teriam passado de mera variável de ajustamento, objecto de todas as desvalorizações, para serem liminarmente abandonados à sua sorte, descartados como qualquer mercadoria já consumida ou sem valor.

Como cidadãos, já estávamos a caminhar para este estatuto cada vez que aceitámos o aumento da exploração, a corrosão dos serviços públicos, as engenharias de concessões e privatizações que deixam o país sem recursos para sustentar o aparelho produtivo e o Estado social. Mas também cada vez que nos deixámos convencer de que o privado faz melhor do que o público, de que a desregulação liberta o desenvolvimento, de que a limitação da riqueza afugenta os ricos, de que a desvalorização social não tem alternativa.»

(Continuar a ler AQUI.)
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