Sim, o Relatório do FMI, do principio ao fim (saltando muitas notas de pé de página, é certo). Fechei-o com a convicção de que é uma «boa» cartilha que se inscreve num plano desesperado de tentativa de salvação, não de Portugal (who cares?...), mas de uma Europa exaurida e ameaçada por tudo o que a cerca. Bem alicerçado ideologicamente, de uma coerência sem falhas, fiel a um neoliberalismo tecnocrático (ou utilize-se uma outra qualquer designação, pouco me interessam etiquetas) que tudo leva à sua frente para que alguns senhores do Ocidente não naufraguem e não sejam atirados pelos emergentes da globalização para uma gloriosa história do passado.
Salvem-se os mais fortes, custe o que custar, «rasguem-se os ventres», como diz Viriato Soromenho-Marques, mesmo que «18 dos 27 países da UE vejam agravados não só o desemprego, como todos os outros indicadores sociais».
Mais: «Esta direita, voluntarista quer fazer regressar os europeus ao inferno da pobreza narrada por Charles Dickens. Os ditos "neoliberais" imitam hoje, na sua língua de trapos tecnocrática, a brutalidade arrogante dos engenheiros de almas do passado. Entregam a propriedade e a dignidade de povos inteiros ao confisco de uma incompetente elite de banqueiros e burocratas, em nome de "sociedades abertas". Com a mesma candura com que no passado se abriam gulags, em nome da "emancipação humana". Em ambos os casos, não é a vontade que triunfa, mas o terror nas suas múltiplas e horrendas máscaras.»
Foi isso que encontrei no dito Relatório - e é de terror que se trata. É aqui que estamos, para onde vamos é uma trágica incógnita. Tudo o resto é puramente anedótico: saber a que horas seguiu o «papel» para quem, que vírgula foi acrescentado por este ou por aquele protagonista, etc., etc., etc. E, no entanto, foi mais ou menos isso que a comunicação social nos serviu ontem à noite...
Acordemos do susto. Antes que seja demasiado tarde.
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