Depois de Relvas ter sido alvo de dois protestos em menos de 24 horas, sucederam-se, no serão de ontem, dezenas de tomadas de posição.
Se os comentadores que se identificam com as forças que estão no poder, com honrosas excepções, se precipitaram como seria de esperar para defenderem o ainda ministro, o mais extraordinário é que não estiveram sozinhos. Para citar apenas dois casos, membros do PS com responsabilidades políticas e intelectuais insurgiram-se com veemência contra «o inadmissível ataque à liberdade de expressão». Estou a falar de declarações de Augusto Santos Silva e de Paulo Pedroso, o primeiro em entrevista à TVI, o segundo no seu blogue pessoal.
Para Santos Silva, tratou-se de «manifestações antidemocráticas» com «limitações ilegítimas à liberdade de expressão», agravadas por terem visado um ministro (!), a quem, por isso mesmo, manifesta «solidariedade política e pessoal». Repito: «solidariedade política e pessoal». Já Paulo Pedroso diz que «Portugal está a desaprender a liberdade» e pergunta-se «se o caminho para mudar o estado de coisas passa por impedir os Ministros - ou as oposições, tanto faz - de falarem nas Universidades, lugar por excelência da liberdade.»
O que está em causa nestas posições não é a liberdade expressão de um ministro, mas a atitude dos cidadãos quanto ao exercício de democracia. Sobretudo ASS, mas também PP, parecem não considerar que este governo perdeu parte da sua legitimidade pelo exercício que está a fazer do poder que lhe foi confiado pelos portugueses e assumem implicitamente que a liberdade democrática se reduz a actos eleitorais, o que não é verdade: a legitimidade mantém-se por uma conquista permanente, no dia a dia, não só de quatro em quatro anos.
Mais: quando todos os limites de má governação parecem ter sido ultrapassados, condenam a terrível transgressão de pequenos grupos de cidadãos que, pacificamente, interrompem ou impedem o mais trapaceiros dos ministros de dizer umas patacoadas. (Que o façam numa Universidade parece impressionar especialmente PP, para quem os jovens do ISCTE se terão transformado ontem em membros do Pussy Riot, profanadores de catedraisl!)
O que diriam, ou dirão, estes dois socialistas se viermos a assistir a protestos bem mais musculados? Nem dá para imaginar... Algum espanto ou novidade com estes ventos provenientes do PS? Não, obviamente. Mas é bom que fiquem registados para memória futura.
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3 comments:
Neste fase do campeonato está muita gente a ficar sem explicações possíveis.
Há muita coisa para explicar, mas tenta-se esconder a cabeça na areia.
A Grândola não é mais do que isso mesmo: esconder a cabeça na areia.
Tenho para mim que este suscitar as manifestações por parte do governo não passa de gato escondido com rabo de fora.
O Relvas, depois de ter sido desmascarado na equivalência folclórica da Licenciatura, remeteu-se um pouco ao silêncio, quase desapareceu do palco.
Era ainda o tempo dos «amanhãs que cantariam» de Gaspar.
Agora, com os indicadores económicos quase todos de pantanas: queda do PIB (recessão continuada); aumento da dívida pública para 198 mil milhões; défice (qual Alfa & Ómega) aliviado pela Troika mas mesmo assim incumprido; desemprego galopante; iminência de desagregação do tecido empresarial das PME; iminência de desagregação social; emigração galopante, eis que o Relvas regressa em força à ribalta.
E ainda não chegou à economia o efeito da bomba atómica do tão desejado e salvítico corte dos 4 mil milhões.
É que assim, com todo este folclore dos boicotes, das cantorias da Grândola, se marca a agenda política e mediática.
Desaparecem ou são reduzidas ao mínimo as más notícias sobre a economia e as pessoas.
Não se fala dos antigos gestores (especialistas na vigarice) do BPN / SLN, que foram quase todos colocados na gestão das actuais sociedades-veículo dos activos tóxicos do BPN / SLN (a Parvalorem, a Parups e a Parparticipadas). Quem melhor conhece do assunto para dar «eficácia» à coisa?
Fala-se menos do senhor Salgado, que regularizou o seu esquecimento de 8,5 milhões de euros junto do DIAP e do Fisco… a seu pedido.
Fala-se menos dos 2/3 da pensão do senhor Jardim Gonçalves (de 175.000€ / por mês) que estão isentos da contribuição solidária.
Fala-se menos dos «preguiçosos» que começam a perder apoios (desempregados, RSI)… puxa, já não era sem tempo.
Fala-se menos do desemprego que cresce de forma galopante apesar da igualmente crescente emigração.
O regresso do parolo do Relvas não é inocente.
Há sempre um bobo da corte disposto a divertir o pessoal.
Acho estranho que os manifestantes, que têm legitimidade e razões para se manifestarem, não se apercebam de que com o folclore relvítico se está, ou pode estar, a voltar contra eles.
Só falta um murro no Relvas para se criar um novo caso Mário Soares na Marinha Grande.
Se calhar sou eu a delirar… sou muito dado a delírios.
Deus não dorme http://jugular.blogs.sapo.pt/3464075.html
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