@Gui Castro Felga
No início da entrevista que ontem concedeu à RTP, Sócrates disse que vinha para gozar de um direito – o de se defender – e para cumprir um dever – o de contribuir com um ponto de vista diferente para a «narrativa» actual. Na prática, limitou-se à primeira parte, numa detalhada justificação do seu legado e num ataque (mais do que justificado, diga-se) ao presidente da República.
Regressou como partiu. Para o bem e para o mal, não parece que os dois últimos anos tenham operado qualquer mudança significativa em relação ao passado, nem quanto ao conteúdo, nem quanto à forma de intervenção.
O chumbo do PEC IV continua a ser o ómega de um tempo de prosperidade e o alfa de todos os males, aquém e além fronteiras (sabe-se lá se até em Chipre...). Sem esse chumbo, e com Sócrates, não teríamos cá a troika e os juízes do Tribunal Constitucional teriam uma vida bem mais tranquila. História virtual em todo o seu esplendor – acredite quem quiser.
Não tinha ele todo o direito a esta defesa? Certamente que sim. Mas, se é só a isso que vem, é muito pouco e, no estado crucial da nossa realidade, não me parece que se trate de grande ajuda, porque é o presente e o futuro próximo que verdadeiramente interessam.
Para além de arrumar o PS de Seguro a um canto (se era isso que pretendia, acertou em cheio), lançou uma enorme confusão nas diferentes hostes, como foi cristalinamente evidente nas redes sociais, das quais dificilmente nascerá qualquer luz e só poderão crescer falsas esperanças.
Enfim: regressou o político mais do que habilidoso, sem dúvida o tal «animal feroz» que ganha aos pontos qualquer combate com muitos outros. Mas não o verdadeiro estadista – que ele nunca foi nem será.
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