15.4.13

Carta a Wolfgang Schäuble



Amigo Wolfgang: 

Espero que esta carta te encontre bem aí em Berlim. Acredita que tenho muitas saudades dos tempos que labutei na fábrica da Volkswagen, em que trabalhámos juntos e éramos unha com carne: tu a mandar e eu fazer. Formávamos uma bela equipa e eu trouxe recordações das quais nunca mais me vou esquecer: uma hérnia discal, artrite, varizes nas pernas e uma reforma imune a cortes.

Pois que agora li que aí na Alemanha querem contratar 200 mil camionistas e que andam à procura deles no meu querido Portugal. Eu já não tenho idade para essas aventuras e além disso não tenho carta de pesados, mas informei o pessoal que pára aqui no café da Clotilde de que a oportunidade existe e que é de agarrar com as duas mãos. (Nota: tentativa de fazer piada, porque um volante agarra-se normalmente com as duas mãos).

Escrevo-te, amigo Wolfgang, para te meter uma cunha. O meu cunhado, o André, assim que soube disto dos camionistas quis ir logo para a Alemanha.(...) Eu estou a incentivá-lo a ir e até lhe prometi que dava um palavrinha por ele a ti, Wolfgang, que tens bons conhecimentos aí no Governo. É isso que estou a fazer. Por favor, ajuda o meu cunhado que é um bom moço, apesar de às vezes parecer desmiolado. Então não é que se pôs a criticar o Wolfgang Schäuble (pssiuuu!!! que ele não sabe que esse és tu), porque esta coisa da austeridade, diz ele, não leva a lado nenhum, e que esse tal de Schäuble (que afinal és tu) se comporta como um regedor da Europa. Já lhe disse para tirar essa ideias malucas da cabeça, porque os alemães são boas pessoas, só querem o bem da Europa e tomar conta de nós, devido à nossa manifesta incapacidade para o fazer. Afinal, são vocês que conduzem o nosso destino e nós somos apenas motoristas do grandioso itinerário que nos traçaram para lá chegar. Bem hajam por isso.

Um amplexo forte deste que te estima,

Virgolino Faneca

(Daqui, mas o link pode só funcionar mais tarde.)
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