19.4.13

Fantasia



«Às vezes a política não é uma encenação, mas é raro tal acontecer; às vezes a política consegue ser coerente, mas não é nada frequente; às vezes os políticos são sinceros, mas não é costume. A semana que agora acabou foi pródiga em tudo isto. Por momentos, parecia um ensaio de bailado entre Passos Coelho e Seguro - só que ambos escorregavam e caíam, sem conseguirem completar os movimentos. Na época da comunicação digital, o primeiro-ministro e o líder do maior partido da oposição correspondem-se por carta para criar um ambiente de romance - uma coisa para inglês ver, melhor dizendo, para troika observar. Nesta última semana, não houve dia em que Passos e Seguro não falassem. Falaram demais - dias de cacofonia, de simulações e de muito poucos actos. Até a cena final - a conferência de imprensa matinal de quinta-feira, depois da dramatização de um Conselho de Ministros ao longo da madrugada, foi um triste espectáculo de vazio, uma ilusão de óptica. No fim da conferência de imprensa, fiquei com a certeza de que a troika vai saber, antes dos cidadãos, os cortes orçamentais que não foram revelados. Fecho os olhos e imagino tudo isto como se fosse um filme: o Governo retocou-se, escolheu uma nova maquilhagem, até fez um "casting" interessante para novos personagens. Mas mesmo bons actores podem aparecer em maus filmes, quando o realizador falha o seu serviço e o produtor está apenas interessado em tapar as evidências de que as coisas não vão bem. Olho para o Governo e tenho a sensação de que estou a ver um filme que é uma produção falhada, um filme que ultrapassou o orçamento, falhou a história, um filme onde os actores não se entendem e realizador e produtor não conseguem concretizar o projecto. Vítor Gaspar falhou estrondosamente no orçamento de produção, e Passos Coelho é um realizador que deixa a história degradar-se, por causa das dificuldades do produtor, e que não consegue dirigir os seus actores. Espero que nunca se candidatem a um subsídio à produção de cinema.»

Manuel Falcão
(O link pode só funcionar logo mais tarde ou amanhã)
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2 comments:

Niet disse...

Oh, Joana Lopes: Neste ano de grande consagração intelectual da Joana,citada abundantemente como referência politica e moral na Biografia do Jorge Sampaio e nos livros mais recentes do Pacheco Pereira,fica-se siderado a vê-la citar Manuel Falcão, o ex-fotógrafo oficial famigerada e horripilante geração" Voz do Povo", o prodigioso arrivista que se metamorfoseou em Jornalista no Independente, na Noticias de Portugal e no Expresso, numa espiral sucessiva abracadantesca... Além de fundador do Blitz, que vendeu ao Balsemão sabe-se lá porquê...Falcão, que apoiou Portas nas últimas legislativas, é um histórico yes-man de Santana Lopes( vejam lá o despautério...) e tarda,só ele deve saber porquê , a ser colocado numa prebenda/tacho pelo governo PSD/CDS.... Como vê o tempo a fugir, mostra as garras e faz da evidência perversa uma fonte de rendimento para o seu ego desproporcionado e balofo. Salut! Niet

Joana Lopes disse...

Niet,

Não é a primeira vez, nem será a última que o digo: a não ser em casos extremos, distingo mensagem e mensageiro.

O Niet não era capaz de fazer um retrato mais ou menos semelhante de Pacheco Pereira (já que o refere)? E é por isso que deixa de dizer coisas acertadíssimas e merecedoras de citação, no tempo que passa?

Interessa-me lá quem é este M. Falcão!

Abraço