11.5.13

Demissão


Do texto de Sandra Monteiro no número de Maio de Le Monde Diplomatique (edição portuguesa).

«Quando o presidente da República Aníbal Cavaco Silva fala, percebemos que decidiu, pelo menos por agora, sustentar política e institucionalmente o miserável mundo novo que o governo está a criar, mesmo quando isso afronta o consenso social contra as políticas do executivo. Estamos perante uma forma original de governo de iniciativa presidencial, que isola governo e presidente numa resposta a que a maioria da sociedade se opõe.

Quando o ministro das Finanças Vítor Gaspar fala, em particular no conforto dos seus pares europeus, compreendemos que o regime austeritário, isto é, o aprofundamento da captura de rendimentos e poder por mercados que capturaram os Estados, é de facto uma sociopatia, uma forma de destruir os povos e a democracia. Ele precisa de actores como Gaspar, que não se sentem «coisíssima nenhuma» vinculados às regras democráticas e retiram tanto prazer das suas engenharias macabras que são capazes de dizer coisas destas, sem serem demitidos: comparando com outros países sob «ajustamento», «vemos padrões similares, mas como podem imaginar é muito mais bonito quando se olha para o ajustamento de Portugal e é por isso que eu o uso como paradigma» [1]. (...)

E quando fala o primeiro-ministro Pedro Passos Coelho? Mais parece que dispara, com munições cada vez mais mortíferas, sobre alvos enfraquecidos, tudo em nome da protecção, usando instrumentos públicos, dos florescentes meios de negócios e mercados financeiros. Nesta contradição fundamental entre os interesses da maioria da população e os da minoria de privilegiados encerra-se a esperança de intensificar as revoltas colectivas que acabem com o desespero de vidas reduzidas à sobrevivência por uma coligação que já nem mascara o desprezo pelos cidadãos.

Recuperar essa esperança implica demitir o governo – usando instrumentos institucionais, greves, acções de rua ou desobediência civil – e impor uma solução alternativa que substitua a austeridade por emprego e desenvolvimento sustentáveis.» 

Ler na íntegra aqui.
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