11.7.13

Nem governo, nem maioria, só um presidente

Passos Coelho é primeiro-ministro, Portas mantém-se nos Negócios Estrangeiro e Álvaro Santos Pereira continua certamente e vender natas. Mas eu gostava de ser mosca para ver as caras exibidas, neste preciso momento, na reunião habitual do Conselho de Ministros (haverá briefing no fim?). Aqueles seres já não conseguirão governar coisíssima nenhuma, depois de Cavaco lhes ter passado ontem um atestado de total incompetência e lhes ter dado o estatuto de contratados a prazo.

Quanto à maioria, onde é que ela já vai! Estou certa de que uma das primeiras iniciativas dos dirigentes do CDS terá sido amordaçarem Paulo Portas e manterem-no encarcerado, sabe-se lá onde, para evitar que se «redemita» de tudo e mais alguma coisa. Em estado letárgico, a dita maioria está agora à espera de ser reconstituída – ou não – por Seguro and friends.

Resta o presidente que, acossado por anos e milhares de acusações por inacção, veio finalmente dizer «L'état c'est moi». Porque foi isso que aconteceu. Do modo mais canhestro que imaginar se possa, Cavaco Silva centrou em si todos os poderes de decidir pelos partidos da coligação, pelo outro que assinou o Memorando, pelos que não quiseram fazê-lo e, sobretudo, pelos portugueses. Agravou uma crise política que já era maior que a superfície de Portugal, numa perigosa jogada de roleta russa. Os próximos dias revelarão se alguém sairá ileso.

Já agora: haverá, amanhã, debate sobre o Estado da Nação? Se sim, fica uma sugestão: que seja aberta a sessão, que todos, governo incluído, cantem a Grândola e que Assunção Esteves mande evacuar a sala. Depois, podem tentar bloquear um acesso à ponte 25 de Abril, porque a jurisprudência ditará que verão um eventual processo devidamente arquivado.

Resta-nos o humor, mesmo que com alguns esgares, não? 
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1 comments:

Niet disse...

" La méthode est une nage à contre- -courant", G. Bataille. "Le Coupable",1944-Gallimard EDts.

Carissima: Rigorosa e sintéctica análise de circunstância politica trágica. Para lá do escárnio e revolta legitima, claro. Salut! Niet