8.7.13

Rebobinemos então até 8 de Julho de 1975



Se este Verão está a ser quentíssimo, o de 1975 não o foi menos. Já nem me lembro se em termos climatéricos foi semelhante ao actual, em termos políticos foi totalmente diferente mas, garantidamente, não menos tórrido, como até os mais novos ou menos informados saberão.

Precisamente em 8 de Julho de 1975, foi aprovado pelos 240 membros da Assembleia do Movimento das Forças Armadas, reunida durante 18 horas, o «Documento-Guia da Aliança Povo/MFA». Foi longo o enredo das peripécias que precederam a sua existência e a sua aprovação, como fortes foram as reacções negativas imediatas que provocou, nomeadamente de PS, PSD e CDS.

Utópico e irrealizável com tudo o que hoje sabemos? Talvez. Mas não mais utópico e irrealizável do que a maldita «aliança» em que agora estamos metidos, esse Memorando em que ninguém acredita, nem os que o assinaram e continuam a venerá-lo, nem mesmo os que o impõem. Com uma enorme diferença: ao contrário do que acontecia há 38 anos, hoje, é muito mais difícil mantermos a tal esperança que comanda a vida.

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O texto pode ser lido na íntegra, mas não resisto a transcrever a Introdução – que talvez surpreenda uns tantos.

«A aliança Povo-MFA tem sido uma realidade constante do processo revolucionário até ao momento presente. A acção libertadora do 25 de Abril, continuada por todo um conjunto de atitudes do MFA e dos partidos políticos progressistas e pelas medidas de carácter político e económico postas em prática, tem permitido manter um nível suficiente de coesão Povo-MFA. No entanto, a manutenção e consolidação da aliança Povo-MFA passa, numa primeira análise, pela satisfação das aspirações mais profundas das classes exploradas. Neste aspecto, urge prosseguir a obra iniciada em 25 de Abril de 1974. É dentro do âmbito de uma revolução cultural, pela aplicação das potencialidades militares e civis, nos campos técnico, humano e material que se mobilizará decisivamente o Povo para a Revolução. A prática começa a demonstrar este raciocínio, aliás óbvio. Essa premissa «sine qua non» de consolidação da aliança está em desenvolvimento e criará as condições para que o binómio motor do processo revolucionário português se mantenha e consolide.

Por outro lado, e ainda numa intenção de mobilizar o Povo para a Revolução, é necessário que às massas trabalhadoras sejam asseguradas condições de participação activa, o que passa por formas de organização popular, numa prática democrática, independente e unitária. Torna-se necessário aproveitar, concretamente, esta realidade fundamental, aliança Povo-MFA, estimulando-a e apoiando-a para a defesa e dinamização da Revolução em curso. A defesa e dinamização da Revolução, na sua actual fase, passam pela realização das seguintes tarefas:

a) Fomentar a participação revolucionária das massas, no sentido de criarem e desenvolverem agrupamentos unitários, numa perspectiva de implantação de verdadeiros órgãos de poder popular;

b) Defender a Revolução dos ataques das forças reaccionárias, através de uma consciencialização profunda das exigências do processo e da criação de organismos de defesa;

c) Vencer a batalha da economia.
Enquanto a produção não for suficiente para as necessidades globais do País, será necessário um grande esforço das massas trabalhadoras. É fundamental, portanto, vencer-se a batalha da economia superando o fraco desenvolvimento das forças produtivas, ampliando e desenvolvendo o controlo operário alargando-se o campo do sector estatal e procurando-se a acumulação necessária à nossa independência económica.» 
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