14.8.13

Leitura indispensável para não se embandeirar em arco com o fim da recessão



Esta, de um texto de Gustavo Cardoso, divulgado hoje no Público online. Alguns excertos «para abrir o apetite:

«As diferentes agências de notícias, TV’s e jornais, tanto internacionais como portugueses, preparavam-se na terça-feira para anunciar o fim da recessão na Europa. Por exemplo, o Financial Times escrevia que parecia claro que a pior crise económica em tempo de paz – desde a grande recessão – estava terminada para a Europa. (...)

As boas notícias não resolvem o maior problema de todos, maior porque é-o em número de actores individuais e colectivos neste processo que assumiu o nome técnico de “grande recessão”e que na gíria se denomina “crise”, ou seja, os problemas dos cidadãos europeus e das pequenas e médias empresas europeias.

Porque governar só faz sentido se for feito para as pessoas e não para grandes organizações (as quais poucas pessoas envolvem) e porque a riqueza e o emprego só se gera (pelo menos na Europa) por via dos milhões de pequenas empresas, esta indicação de crescimento que alegra Governos e grandes empresas não deve trazer grande felicidade a todos nós, pois não resolve ainda os nossos problemas. (...)

Mas (...) há outro problema não resolvido, o do emprego. Porquê? Porque todos os analistas e gestores financeiros sabem (embora acredite que nem todos os governantes europeus o tenham presente) que é perfeitamente possível, no curto prazo, crescer o lucro das empresas despedindo pessoas – ou reduzindo salários quando possível - e que esse é o manual de gestão utilizado na maioria das grandes empresas globais para apresentarem resultados aos seus accionistas mesmo em tempo de recessão. (...)

Ficar contente, mesmo que contente com cautela e precaução, por regressarmos, no actual contexto, à performance das grandes empresas no pré2008 e às taxas de crescimento de “0.qualquercoisa%”é mau, muito mau mesmo. (...)

Ou seja, se nada mais fizermos (e contentes ficarmos) com o que está a surgir no radar apenas podemos esperar que, em Portugal e na restante Eurozona, tenhamos menor capacidade de criar riqueza, assistamos ao incrementar da tendência de concentrar a riqueza num cada vez menor número de pessoas e de grandes empresas, diminuindo assim a capacidade de criação de emprego e criando uma sociedade assente em cada vez maiores desigualdades, no medo de deixar de pertencer às classes médias (cada vez mais frágeis) e no condicionamento de facto do livre acesso ao empreendedorismo e à liberdade empresarial.» (O realce é meu.)
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