Do mais que insuspeito José Cutileiro, no Negócios de hoje (*):
«Passados cinco anos sobre a falência de Lehman Brothers, a maneira de tratar da crise por via de austeridade pura e dura, primeiro sugerida no G20, depois posta em prática pelos países sofredores, trazidos à rédea curta por Conselho Europeu, Comissão, Banco Central Europeu e FMI, descrita há dias como um triunfo pelo ministro das Finanças alemão que entende estarmos a sair da crise, é cada vez mais posta em causa por gente que sabe o que diz. As dívidas nacionais aumentam, o desemprego não baixa, o crescimento é fraquíssimo ou inexistente, a Europa vai perdendo, lá fora, a influência que teve no mundo e, cá dentro, a solidariedade que apanhando uma boa maré política e contra todas as tradições da história fora construindo desde que decidira gerir em comum carvão e aço franceses e alemães.
Não se deve subestimar a capacidade de encaixe dos povos. Os estilos variam de lugar para lugar: na Grécia, bafos de República de Weimar com neo-nazis e tudo; em Portugal, mais perto da mulher-a-dias da minha mãe – "adeus, parabéns, obrigado e desculpe" - em toda a parte se vai vivendo. Mas desconfiança entre europeus e ódio à Alemanha renasceram e crescem como bambus: se nada se fizer para os contrariar haverá sarilho à antiga.
Angela Merkel é mestre de táctica, mas governar é prever, de preferência para lá da primeira esquina. Ninguém saberá convencer a "Chefe da Europa" que no interesse de todos, a começar no da própria Alemanha, ou se vai aliviando a austeridade ou, em vez de retoma, teremos a democracia em perigo e a Europa desfeita?»
(*) O link pode só funcionar mais tarde.
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