«No século XVII era muito deselegante, em Inglaterra, discutir temas considerados polémicos com uma dama. Fosse política, religião, filhos ou dores nas costas. Assim os ingleses desenvolveram a arte de falar sobre um tema neutro, o tempo.
Depois do manifesto dos 70 essa parece ser a reacção da elite que está no poder em Portugal: é deselegante falar sobre uma possível reestruturação da dívida. (...)
Nada como comportar-nos como cordeiros, evitando questionar a caminhada para o redil. O argumento é que, ao ouvir isto, os mercados, qual Zeus, poderão sentir-se ofendidos, e lançar raios a partir do Céu sobre os juros da nossa dívida. Como se os mercados não soubessem que é impossível pagar este volume de dívida ou que é irreal esperar um crescimento acima de 4% para a limitar. (...)
Portanto, o melhor é mesmo falar do clima, do sol e da chuva e não discutirmos o que vai ser de Portugal nos próximos anos. Como se isso fosse um tabu. E quem levanta questões merecesse ser atirado para uma fogueira por bruxaria.»
Fernando Sobral, no Negócios de hoje.
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