Há expressões curtas que valem mais do que longas explicações e a descrição de Portugal como uma «gigantesca aldeia de roupa branca» é excelente. Até pelos velhos cenários que evoca.
Fernando Sobral, no Negócios:
«As eleições costumam ser uma máquina de lavar roupa. Seja a suja, ali colocada pelos partidos para animar os cidadãos, seja a que tem apenas umas nódoas, fruto de decisões de governação que se desejam fazer esquecer.
A proximidade das eleições europeias transformou a política numa gigantesca aldeia da roupa branca. O eixo que decide (Berlim e Bruxelas) quer que Portugal surja como um exemplo de “sucesso”, com uma “saída limpa”, para que os cidadãos votem sem represálias. (...)
Por cá, a entrevista de Pedro Passos Coelho, mostrou o jogo eleitoral do Governo: espalhando a confusão e a insegurança sobre tudo, pretende-se que os portugueses esqueçam o desemprego, a carga fiscal brutal e a incerteza sobre as medidas que estão previstas. Sabendo-se que milhões de portugueses decidirão o seu futuro a partir da “reforma” do sistema de salários e pensões, Passos Coelho conseguiu dizer umas iniquidades sobre o tema.
De forma espantosa garantiu que há um documento sobre o assunto, que não teve tempo para ler, e que ninguém sabe quem elaborou, mas que pelos vistos não serve para nada porque as decisões já estão tomadas. Governar em Portugal é um exercício feito em cima do joelho. Sem rigor e sem ética.
Não admira que por detrás do sucesso económico (que os pajens do regime e da troika louvam a cada momento) haja uma sociedade estilhaçada e amedrontada. Nada disso incomoda o poder.
Como pensava Lear, na peça de Shakespeare, cada regime está apenas obcecado pelas “notícias da Corte”: “Quem perde e quem ganha, quem está dentro e quem está fora”. É só isso que conta para a sociedade idealizada por Passos Coelho, pela troika e pelos seus cúmplices.»
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