«Num daqueles momentos em que se é iluminado pela luz de um gambozino e se julga ter visto o sol, Passos Coelho considerou que "se se isolar o que se passou em França e no Reino Unido" não se pode "extrair" que houve um crescimento anormal dos eurocépticos e da extrema-direita. Para lá de a França e o Reino Unido serem países centrais na construção da União Europeia, a única coisa que se pode "extrair" é que, ou Passos Coelho está distraído ou faz disso uma fé.
O primeiro-ministro não entende que o emagrecimento dos partidos "centrais" e a progressiva liderança cultural (a hegemonia cultural das sociedades) pelas facções nacionalistas e antiglobais encontram cada vez mais eco em populações descrentes com este projecto Europeu. E é incapaz de entender, ou não o quer fazer, que este sentimento radical irrompe em países que não sofreram a terrível austeridade. (...)
Passos Coelho sabe obviamente que Portugal está a ser o país onde se está a criar um novo laboratório social. Onde, em nome do liberalismo, o Estado está a aumentar os seus poderes (aliado a uma elite política, económica e legal), como se vê claramente no poder cada vez mais tentacular da Autoridade Tributária, a nossa NSA de trazer por casa. Democracia controlada é o regime que está a ser testado, num deserto cultural sem referências, onde o parco consumo é o escape.»
Fernando Sobral, no Negócios.
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